Estudo da UEL amplia metodologia de análise de solos 19/09/2019 - 16:18

Um estudo publicado em julho por pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) na revista Soil & Tillage Research (Holanda), um dos periódicos de mais alto impacto acadêmico na área, traz uma inovação metodológica de análise de solos que já despertou o interesse de outros pesquisadores, de várias regiões do Brasil assim como dos Estados Unidos, China e Austrália.

O artigo representa apenas um dos resultados obtidos na pesquisa de Doutorado de Thadeu Rodrigues de Melo, que defendeu, em junho, sua tese intitulada "Estrutura de solo: dinâmica e sugestão metodológica", dentro do Programa de Pós-graduação em Agronomia da UEL. Orientado pelo professor João Tavares Filho (Departamento de Agronomia), o estudo foi quase todo desenvolvido no Brasil, mas de setembro do ano passado a fevereiro deste, Thadeu esteve na Universidade de Adelaide (Austrália), num Doutorado Sanduíche, para dar à sua pesquisa uma contextualização mais global. Tudo isso foi possível pelos recursos do CNPq, CAPES e bolsa produtividade do orientador.

No artigo, Thadeu inova no método de avaliar a estabilidade estrutural do solo, ou seja, sua capacidade de resistir às chamadas forças disruptivas, como a chuva (que causa erosão) ou mesmo ações humanas, como as atividades agrícolas (aragem, plantio, etc.). A composição do solo lhe dá mais ou menos resistência. Quando há mais matéria orgânica, ou mais ferro (como é o caso de Londrina), por exemplo, o solo tende a resistir mais e não ficar suspenso na água, minimizando seu transporte para rios. Quando a resistência é menor, como em solos australianos afetados por sódio, a argila tende a ficar suspensa na água, mudando sua coloração (a "água suja" do senso comum).

Thadeu explica que, até então, os métodos utilizados no mundo todo até então consideravam que a argila podia ser classificada de acordo com seu comportamento estrutural em apenas dois tipos. Por argila se entende qualquer partícula menor que 0,002mm. Apesar de parecer pequena, tem superfície suficientemente grande para adsorver água e outros materiais. A argila pode então ser dispersável em água (a "água suja") ou floculada (agregada). Thadeu propõe uma subdivisão nesta última: refloculável (pode se agregar novamente após rompida) e não dispersável (resistente à ruptura). Em outras palavras, não há apenas tipos dicotômicos, mas gradações entre eles.

Aí entram os fatores disruptivos, como as ações humanas, que expõem o solo ao fenômeno. Quanto mais exposto, mais o solo está sujeito a tais fatores, por isso uma cobertura vegetal é importante para evitar erosão - o mesmo fenômeno, mas em grande escala.

Embora tenha concluído o Doutorado, Thadeu continua sua pesquisa. Provada a existência de três tipos de argila e a possibilidade quantificação, o próximo passo é estudar como os fatores afetam argilas com maior concentração de material orgânico, que tende a inibir a floculação da argila. Além disso, observar o comportamento destas argilas em campo sob condições naturais.

Para o professor João Tavares Filho, os resultados da pesquisa de Thadeu foram rapidamente validados e aceitos. Uma indicação disto é a procura pelo trabalho no Researchgate, uma das maiores plataformas voltadas para a produção científica e interação entre pesquisadores de todo o mundo. Tavares conta que esteve no XXXVI Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, no final de julho (em Cuiabá) e lá também o trabalho, divulgado, despertou muito interesse. Além disso, Thadeu já coorienta trabalhos e ambos preparam um livro.