Imunizados ainda precisam tomar cuidados na pandemia, alerta pesquisadora da UEPG 07/04/2021 - 08:37

No Brasil, menos de 10% (20,02 milhões) da população recebeu a primeira dose da vacina contra a Covid-19 e apenas 2,52% receberam a segunda dose (5,59 milhões). Apesar do imunizante ser a melhor opção no combate ao coronavírus, os vacinados ainda não podem relaxar nos cuidados, explica a especialista em Microbiologia e Imunologia Elisangela Gueiber Montes, professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

“O indivíduo que recebe a primeira dose ainda continua suscetível a ser contaminado pelo coronavírus e ficar doente”, explica Gueiber. É importante que as pessoas fiquem atentas à data em que a segunda dose está programada para ser aplicada. “A imunidade total ou parcial só acontece após um período de 14 a 21 dias após a segunda dose da vacina”, detalha.

Conforme Gueiber, as vacinas podem conferir imunização total ou parcial. “Ainda que a possibilidade de infectar-se seja muito menor, ela pode ocorrer, mas a diferença é que neste caso, as chances de evoluir para as formas graves da doença são muito pequenas ou quase nulas”, continua. “Desta forma, é preciso manter os mesmos cuidados que já vínhamos tomando, ou seja: distanciamento social, uso de máscara e lavagem das mãos”, esclarece Gueiber. 

“Embora não existam estudos conclusivos sobre a transmissão da doença por quem já está imunizado, é possível que o indivíduo ainda assim possa continuar disseminando a doença”, alerta a professora. Partículas virais podem permanecer na mucosa nasal e oral do indivíduo e a partir dali contaminar outras pessoas, de acordo com Gueiber. “Um indivíduo que foi contaminado por alguém vacinado pode desenvolver a forma grave da doença e precisar de um leito de UTI”, comenta a especialista.

Considerando a escassez dos leitos, os quadros graves podem ser fatais, afirma Gueiber. Para que não seja mais necessário manter cuidados como o uso de máscaras e distanciamento social, a sociedade precisa alcançar imunidade de rebanho. “Precisamos chegar no mínimo a 70% da população vacinada para conseguirmos evitar a circulação do vírus em nosso meio. Para que isso aconteça e, até lá, cada um precisa fazer a sua parte”, complementa a professora.

Vacinas

No Brasil, as vacinas aplicadas, até o momento, são a CoronaVac, da empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e o imunizante produzido pelo laboratório britânico AstraZeneca e pela universidade de Oxford em parceria com a Fiocruz.

“A CoronaVac utiliza uma metodologia bastante antiga e conhecida no meio científico, onde o vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19, é cultivado e posteriormente inativado”, conta Gueiber. Assim, o vírus não causa infecção e não se replica dentro do organismo. “Mesmo inativo, quando aplicado através de uma vacina, ele estimula o sistema imune, que cria uma resposta protetora”, adiciona.

Já a empresa farmacêutica AstraZeneca desenvolveu seu imunizante com base em uma metodologia que utiliza uma técnica de vetor viral. “Nessa vacina, o material genético responsável pela síntese das proteínas da espícula do coronavírus é introduzido no adenovírus, que é inofensivo para os humanos”, afirma a professora. O adenovírus é responsável por resfriados em chimpanzés.

“Quando a vacina é administrada contendo o adenovírus, que agora carrega as proteínas do SARS-CoV-2, o imunizante estimula o sistema imunológico do indivíduo, que identifica estas proteínas específicas”, continua Gueiber. “Em ambas as vacinas, depois de algum tempo o corpo começa a produção de anticorpos e células imunes contra o coronavírus. Após as duas doses, caso o indivíduo venha a ter contato com alguém infectado, poderá combater a doença, principalmente na sua forma mais grave”, reforça.

Outros imunizantes, como os produzidos pela Pfizer/BioNTech, Novavax, Sputnik V e Covaxin, podem estar disponíveis no Brasil no futuro próximo e todas são aplicadas em duas doses. Uma das poucas vacinas testadas que utiliza dose única, a vacina da empresa Janssen, já está em avaliação pela Anvisa. “Cada uma dessas vacinas, apesar das particularidades de metodologias e características diferentes, já passaram por todas as fases de testes clínicos e têm sua segurança e eficácia aprovadas”, ressalta Gueiber.

“Qualquer que seja a vacina que o indivíduo receba, elas só são aprovadas e liberadas para utilização na população após avaliação de rigorosos critérios de segurança por parte dos órgãos sanitários responsáveis em cada país. Desta forma, as vacinas que temos e teremos aplicadas na população brasileira são seguras e eficazes”, conclui a professora.

Campanha

Gueiber é doutora em Ciências Farmacêuticas, mestre em Ciências Biológicas, especialista em Microbiologia e Imunologia e graduada em Farmácia-bioquímica pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). É professora na instituição desde 2010, onde leciona, entre outras, as disciplinas de Imunologia, Imunologia Clínica e Microbiologia Clínica. Gueiber é a porta-voz da UEPG na campanha “Todos pela vacina”, idealizada pela Fundação Araucária.

A UEPG integra a campanha junto com a Superintendência de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), a Universidade Estadual de Maringá, a Universidade Estadual de Londrina, a Universidade Estadual do Centro-Oeste, a Universidade Estadual do Norte do Paraná, a Universidade Estadual do Paraná, a Universidade Federal do Paraná, a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, a Universidade Federal da Fronteira Sul, a Universidade da Integração Latino-Americana, o Instituto Federal do Paraná, a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Paraná e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná.