Paraná é referência na política de inclusão indígena no Ensino Superior 13/09/2019 - 16:24

Elis Regina nasceu na aldeia indígena de Laranjinhas, localizado no município de Santa Amélia a 130 km de Londrina. Foi no curso de odontologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) que Elis aprendeu os conhecimentos necessários para atender mensalmente mais de 400 pessoas da comunidade em que vive. O ingresso na universidade foi possível graças à política pioneira de inclusão indígena no ensino superior do Paraná, por meio do Vestibular dos Povos Indígenas.

“A universidade me proporcionou uma mudança de vida que interfere na comunidade em que vivo. Tenho planos de continuar estudando em uma universidade pública para me aprimorar ainda mais”, ressalta Elis. A dentista, que possui especialização em odontopediatria, foi a primeira indígena a inaugurar um consultório no centro de Santa Amélia.

 Na homologação do vestibular realizada na última quarta (11) e quinta-feira (12) no Núcleo de Concursos da Universidade Federal do Paraná (UFPR), foram registrados 750 candidatos de diferentes etnias (entre elas Kaingang, Guarani, Xetá, Fulni-ô e Terena) que concorrerão a 52 vagas, sendo 6 em cada universidade estadual e 10 na UFPR. O número representa um aumento de mais de 1000% na procura por cursos de graduação desde que foi criado.

O Vestibular Indígena foi aprovado como Lei no ano de 2001 e o primeiro processo seletivo ocorreu em 2002. “Desde que o vestibular se tornou Lei Estadual, a Seti atua no fortalecimento dessa política de inclusão. As universidades estaduais e a UFPR são instituições de excelência que oferecem cursos de graduação bem avaliados. O vestibular indígena é uma política de transformação social e econômica na vida do estudante”, ressaltou o superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Aldo Bona.

 O Governo do Estado financia a realização do vestibular e investe na permanência dos estudantes por meio de um auxílio mensal. O Paraná é o único estado brasileiro que possui o vestibular indígena como política estadual. As universidades estaduais possuem 215 estudantes indígenas matriculados em cursos de graduação e pós-graduação.  As provas acontecem nos dias 17 de 18 de novembro e, após a aprovação, os alunos escolhem os cursos de interesse.

A novidade da XIX edição do Vestibular dos Povos Indígenas é a aplicação das provas que ocorrerá de maneira regionalizada nas cidades de Manoel Ribas, Nova Laranjeiras, Mangueirinha, Londrina e Curitiba. A Seti oferecerá transporte para que os candidatos se desloquem das terras indígenas para os locais de aplicação de provas, além de refeições e alojamento.

LEGITIMIDADE – os caciques e lideranças indígenas também fazem parte do processo de ingresso do estudante indígena no ensino superior. Eles são responsáveis por tornar a avaliação legítima incentivando a participação dos moradores das regiões que eles representam.

Segundo o cacique da terra indígena de Laranjinha Everton Lourenço os profissionais indígenas melhoraram significativamente diversos aspectos das comunidades onde residem. “Essa é uma importante conquista para o nosso povo. Na escola indígena mais de 80% dos profissionais cursaram uma universidade estadual, isso motiva as crianças a conquistar um futuro melhor por meio da educação de qualidade”.

TRANSFORMAÇÃO – As universidades estaduais já formaram 75 estudantes em diferentes cursos de graduação como Medicina, Veterinária, Pedagogia, Agronomia, Odontologia, entre outros. Na pós-graduação, a UEL possui um estudante indígena (kaingang) no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Política Social e a Universidade Estadual de Maringá um estudante e um aluno formado no mestrado em Educação.

Cerca de 80% dos indígenas que se formam ainda possuem vinculo com sua comunidade, sendo que a maioria atua na área de Educação. Para a presidente da Comissão Universidade para os Índios (CUIA) Juliane Sachser Angnes o número de graduados pode parecer pequeno, porém, é extremamente significativo. “O projeto de inclusão dos povos indígenas no ensino superior no Paraná e no Brasil é desenvolvido a longo prazo. A representatividade e a transformação na vida dos alunos é significativa”.

A CUIA desenvolve ações de valorização da herança cultural e os saberes dos indígenas, com acompanhamento pedagógico e parcerias interinstitucionais. “A experiência inédita do Paraná possibilita um aprimoramento da política pública ao longo dos anos. Somos referência no Brasil e em diversos estados e universidades que utilizam nosso exemplo como modelo”, ressaltou o membro da CUIA Wagner do Amaral.

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