Dentistas na UTI ajudam HU da UEL a reduzir pneumonias 06/07/2016 - 15:20

O Hospital Universitário da UEL acaba de dar esse passo, por meio de um projeto de extensão que começou a ser executado no dia 1º de março. Desde então, uma equipe formada por docentes, alunos de graduação e residentes da área de Odontologia, e residentes de Enfermagem em Cuidados Intensivos, passou a participar diariamente dos procedimentos de higiene bucal em pacientes internados na UTI 1 do hospital, atuando em colaboração com enfermeiros e médicos daquela unidade.

A professora Cláudia Maria Dantas de maio Carrilho (Departamento de Clínica Médica), coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do HU, explica que a pneumonia é responsável por quase metade de todas as infecções hospitalares nos hospitais que têm unidades de terapia intensiva. “Sempre tivemos o máximo interesse em controlar essas infecções”, acrescenta.

Com a introdução do trabalho de dentistas na UTI, completou-se a adoção, no HU, de uma série de medidas recomendadas pela Associação Brasileira de Medicina Intensiva com essa finalidade. “Entre as medidas recomendadas para prevenir pneumonia em pacientes submetidos à ventilação mecânica, já constavam manter o paciente em decúbito elevado, uso de protetores gástricos, profilaxia da trombose e uso do antisséptico clorexidrina na higiene bucal. Somente há cerca de quatro meses foi incluída a presença de um odontólogo nas UTIs”, diz a professora.

O resultado do trabalho dos docentes, residentes e alunos de Odontologia na UTI 1 do HU, com 10 leitos para adultos, não se fez esperar – surgiu logo no primeiro mês. Naquela unidade são registradas de seis a 15 pneumonias associadas à ventilação mecânica por mês, segundo a professora Cláudia. Na comparação com o mesmo mês do ano passado (a mais adequada, porque leva em conta o fator climático), em março houve um caso a menos, e em abril foram quatro casos a menos.

Essa foi a diferença dos números absolutos, mas outro indicador, que proporciona um retrato mais fidedigno da realidade, também é positivo. Trata-se da chamada taxa de densidade de incidência, obtida dividindo o número de ocorrências de pneumonia associadas à ventilação mecânica pelo número de ventiladores/dia, isto é, pelo número de dias que cada paciente da UTI ficou em ventilação mecânica. “Também quanto à densidade de incidência, tivemos uma redução significativa”, informa a professora, chamando a atenção para o fato de que, embora tenham sido apenas dois meses de avaliação, esse dado tem grande relevância, posto que as demais medidas relativas à prevenção de pneumonias em pacientes entubados já estavam em vigência antes.

Dada a eficácia da medida, é intenção, segundo a professora Cláudia, estender a presença de dentistas para fazer a higiene bucal diária dos pacientes às outras UTIs do HU. O hospital conta com a UTI 2, também com 10 leitos para adultos, a UTI pediátrica, com sete leitos, e a neonatal, com 17 leitos. Essa ampliação do atendimento já está sendo analisada e tem o apoio dos docentes de Odontologia envolvidos no projeto.

Um novo campo de atuação profissional - A abertura da oportunidade para o trabalho de dentistas em UTIs de hospitais é vista de forma positiva pelos docentes de Odontologia que participam do projeto de extensão do HU. Segundo a professora Fernanda Nakanishi Ito (Departamento de Medicina Oral e Odontologia InfantilMOOI), já existe uma lei estadual para tornar obrigatória essa presença. “É um novo campo de atuação para o odontólogo, com amplas perspectivas de futuro”, afirma.

Independente de lei, informa sua colega Priscila Paganini, o trabalho de dentistas em UTIs começa a se disseminar, com base na recomendação de entidades como a Associação Brasileira de Medicina Intensiva. O HU é um dos primeiros hospitais públicos do país a adotar a prática, que já pode ser vista também em hospitais particulares.

Quanto ao trabalho realizado no HU, outra docente do MOOI, Maria Beatriz Bergonse Pereira Pedriali, diz que a área de Odontologia “está ganhando bastante” com o projeto. “Em primeiro lugar, temos que mencionar o ganho para o paciente. Mas nós também ganhamos na formação profissional, na conscientização da importância da saúde bucal e na própria integração do dentista numa equipe hospitalar”.