Discurso de Abertura 01/10/2007 - 11:10

I Encontro Estadual de Ciência e Tecnologia da SETI
06 de novembro de 2007
Discurso de Abertura
Uma das metas da ação política do governo é a de estabelecer um diálogo com os setores organizados da sociedade, com o objetivo de construir um sistema universitário a altura de seus desafios.
A Universidade contemporânea perdeu a exclusividade como centro de produção de saber, mas continua a ser uma das poucas instituições que permite o encontro, a articulação e o diálogo livre entre diferentes saberes e formas de produção do conhecimento.
Reafirmamos aqui uma de nossas mais cultivadas esperanças: a possibilidade do diálogo permanente, respeitoso, do diálogo com aqueles que chegam, sentam, escutam e opinam. Estamos vivendo isto hoje, o que para nós tem profundo significado.
A definição de prioridades não é tarefa fácil, nem para o governo, nem para os gestores da Universidade. A tarefa apresenta-se ainda mais desafiadora em um estado como o nosso, marcado por grandes desigualdades sociais e regionais.
Diante deste quadro de tantas necessidades, poucos brasileiros têm deixado de pontuar a educação como prioridade. Existem muitas razões para isso, mas poderíamos resumi-las assim: quem jamais teve oportunidade de freqüentar uma escola, luta para que seja outra a sorte dos filhos; quem teve tal oportunidade, quer legá-la aos seus.
Meu sonho é que possamos continuar construindo uma Universidade que responda às exigências do Paraná e do Brasil. Isso é possível, depende muito da nossa ousadia, dos nossos conhecimentos, da nossa criatividade e também da nossa perseverança, uma vez que nem tudo avança da forma como desejamos. Vamos sonhar com liberdade e, para a execução dos nossos sonhos, ajustaremos as nossas possibilidades ao tamanho dos nossos desafios.
Encontrar-se efetivamente com a sociedade é o principal paradigma da Universidade do século XXI. Mais que atender o desejo da população de ter um diploma de nível superior, a Universidade precisa enfrentar o desafio de colocar um elo sobre a distância que a separa da Sociedade.
O rompimento deste isolamento pode ser feito por iniciativa da própria Universidade, ampliando o sentimento que a Universidade pertence à sociedade e não a um estado distante.
A construção de um desenvolvimento e de uma globalização com inclusão social só será possível com o entendimento da Educação Superior como um bem público.
A Universidade do futuro será o resultado do intenso debate que se desenvolverá nos próximos anos. Uma discussão que não deverá ficar restrita ao governo e à comunidade acadêmica, mas incluir os mais diferentes segmentos sociais, gerando um novo contrato social.
Mais de oito séculos se passaram desde a criação da Universidade e hoje ela se encontra em uma encruzilhada civilizatória que irá definir os rumos do futuro.
Devemos entender que a modernidade técnica e a modernidade ética devem ser necessariamente complementares, de forma que o conhecimento técnico esteja subordinado aos valores éticos, garantindo assim a semelhança entre os seres humanos.
A Universidade nasceu há oito séculos e meio porque mosteiros medievais perderam a sintonia com o ritmo e o tipo de conhecimento que vinha surgindo ao seu redor. Por serem murados, esses mosteiros não foram capazes de atrair esse mundo externo para dentro de suas preocupações e seus métodos de trabalho.
As Universidades surgiram como um espaço para o novo pensamento livre de seu tempo, capaz de atrair e promover jovens que desejavam se dedicar às atividades do espírito num padrão diferente da espiritualidade religiosa. Ao passar dos séculos, a Universidade floresceu como um verdadeiro centro de geração de alto conhecimento, nas sociedades. Mas, para tal, ela teve que reciclar, mudar e se adaptar à realidade ao seu redor.
O início do século XXI tem nos mostrado que novamente a Universidade tem que se repensar. O conhecimento tornou-se urgente e simultâneo: urgente devido à velocidade de sua criação e simultâneo devido à rapidez de sua divulgação.
O mundo inteiro se converteu em uma grande escola para aqueles que estão atentos e que se comportam como eternos alunos. A duração das verdades científicas e, mais ainda, da eficiência das técnicas, tornou-se cada vez mais curta.
A ciência passou pela mais radical de suas revoluções, com o surgimento da biotecnologia, da engenharia genética, da informática e da microeletrônica. Por todo o mundo e internamente a cada país, o sistema social reconheceu a realidade da exclusão, aceitando a divisão da sociedade, ao invés de propor a distribuição da riqueza.
Temos que inovar a estrutura e o conteúdo dos cursos oferecidos nas nossas Universidades para que os mesmos possam beneficiar os excluídos. O ritmo atual da evolução do projeto civilizatório deixará a humanidade cindida em duas partes, e não tardará muito, apenas algumas décadas, para que essas partes se diferenciem tanto, a ponto de não se sentirem mais relacionadas, e isso graças ao trabalho daqueles que passaram por nossas Universidades.
O direito defende uma parte, a economia beneficia uma outra parte e a biologia pode ser usada para criar os instrumentos que poderão provocar mutações induzidas nos seres humanos, beneficiando apenas uma parte da raça humana e destruindo as características comuns ainda existentes.
Espero que esse Encontro permita que possamos refletir sobre qual é o papel diante sociedade e que possamos reafirmar o nosso compromisso com os interesses nacionais, com a reconstrução dessa sociedade e com a construção de uma civilização menos egoísta e mais solidária.
Lygia Lumina Pupatto
Secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior