ENTREVISTA: Francisco Eugênio Alves de Souza, diretor do Hospital Universitário da UEL 11/08/2007 - 11:50

“OS INVESTIMENTOS REALIZADOS NO HU PELO GOVERNO DO ESTADO PROPORCIONARAM O RESGATE DA CIDADANIA E DA DIGNIDADE HUMANA”
Nesta entrevista, o diretor do HU da UEL, Francisco Eugênio Alves de Souza, fala como nasceu o hospital -- “era um velho sanatório” --, as mudanças ocorridas nos últimos quatro anos a partir dos investimentos realizados pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e as perspectivas para o futuro. “Em 2008, deveremos iniciar o serviço de transplante de medula óssea”, anuncia.
SETI: Em que contexto nasce o Hospital Universitário da UEL?
FRANCISCO EUGÊNIO: Quando o HU foi transferido para esse local o prédio era um velho sanatório, atendia apenas uma doença, a tuberculose. As nossas enfermarias eram no estilo asilo, exército, seminário, ou seja, quartos com muitas camas e banheiros coletivos, com uma ala só para homens e outra para mulheres, então foi mantida a mesma sistemática. O que nós fizemos? Há muito tempo estávamos precisando melhorar a nossa infra-estrutura, que era antiquada, ia contra todas as regras da vigilância sanitária. Com recursos do Governo do Estado reformamos todo o prédio e a SETI destinou uma parcela para equipamentos e mobiliários. Com isso, essa nova unidade (Unidade de Internação Feminina) passa a contar com enfermarias individualizadas com três a quatros leitos, cada uma com o seu banheiro. Nós ainda chamamos essa unidade de unidade feminina, mas os homens também podem ser internados. Ou seja, funcionará como um hospital comum, com alas distintas. Isso proporciona qualidade no atendimento, há uma transformação fantástica.
SETI: Atualmente, qual é a demanda do HU?
FRANCISCO EUGÊNIO: A demanda do hospital é muito grande. O que vai nos ajudar bastante é que a partir de agora, com a entrada em operação dessa nova unidade (Unidade de Internação Feminina) as enfermarias que estavam espalhadas pelo hospital voltam a se concentrar numa única área e aquelas, mais antigas, serão liberadas para novas transformações. Inclusive a SETI vai nos ajudar numa delas, que é a área destinada ao transplante de medula óssea.
SETI: Com essas mudanças o que melhora para quem trabalha no HU?
FRANCISCO EUGÊNIO: Melhora para todo mundo, médicos, enfermeiros e demais profissionais. O paciente será melhor atendido e melhor transportado e as famílias terão maior conforto. Ele não precisará mais ficar andando pelo hospital para ir ao banheiro, ele usará o banheiro da sua enfermaria. Todos esses cuidados com o paciente melhoram bastante a questão da assistência, da infecção hospitalar. Outro dado importante é que com os dois novos postos de enfermagem (na Unidade de Internação Feminina) haverá maior rapidez no atendimento ao paciente, por exemplo.
SETI: Quais as outras mudanças?
FRANCISCO EUGÊNIO: Aquilo que parece óbvio para um hospital construído em épocas mais recentes para nós era extremamente necessário, ter uma sala de procedimentos para atender o paciente, passar uma sonda, fazer um curativo, etc. Qualquer hospital tem isso, o nosso tinha uma sala para enfermaria enorme, agora temos duas, tínhamos um posto de enfermagem e agora temos dois. Temos uma copa, um local para café, um vestiário, local para guardar material. Então, o conforto também é para o profissional, o médico, o enfermeiro. Nós estamos transformando um velho sanatório, isso não é fácil, mas nós estamos fazendo. Nós não podemos parar.
SETI: Quais as principais características do HU hoje?
FRANCISCO EUGÊNIO: Hoje, o HU atende praticamente todos os municípios da região norte. É muito difícil essa assistência, principalmente quanto aos procedimentos de alta complexidade. É claro que só o HU é insuficiente dentro do Sistema Único de Saúde, porém o hospital tem uma demanda que vêm do norte pioneiro, da região de Telêmaco Borba, Joaquim Távora, Santo Antônio da Platina, há pacientes que vêm da região de Paranavaí mesmo tendo Maringá como referência, Apucarana, Ivaiporã, Cornélio Procópio, toda essa região encaminha paciente para o HU, principalmente os procedimentos de alta complexidade, e em alguns casos nós somos os únicos que realizamos.
SETI: Quais as áreas de referência do HU?
FRANCISCO EUGÊNIO: Nós temos várias áreas de referência e é claro que isso também é compartilhado com outros hospitais filantrópicos e privados. Mas hoje na área de cirurgia vascular o HU é referência para uma grande área da região. Hoje em dia você não precisa fazer uma série de procedimentos cirúrgicos invasivos, com os cateteres você faz cirurgias cardíacas que antes eram feitas a céu aberto, e o HU faz isso. Da mesma forma, alguns procedimentos de cirurgias infantis somente são feitos no HU. Quando há um estrangulamento temporário, ou situações críticas no SUS, o HU funciona como retaguarda. Um exemplo recente foi quando os hospitais da cidade deixaram de atender a Traumatologia: grande parte do hospital ficou lotada assim como a Ortopedia porque os outros não estavam atendendo e nós recebemos toda a região porque somos referência, nós colocamos fotos das cirurgias de alta complexidade na área de Ortopedia, idem na Neurocirurgia, que também é referência, e o pessoal vem para cá. Então, nós já vivemos todos esses processos e temos a capacidade de avançar mais ainda com a implantação de outros serviços proporcionados pela SETI, como é o caso do Banco de Olhos e o Banco de Ossos, que estão em fase final de conclusão. É muito importante para o HU ser referência na Neurocirurgia, na Cirurgia Cardíaca, no Transplante, mas se você não tiver infra-estrutura você não toca, e a SETI, por exemplo, nos repassou recursos suficientes para avançar na área de lavanderia do hospital, que é uma coisa simples, porém extremamente estrangulada. Na área de caldeiras também estão sendo viabilizados recursos via SETI, assim como uma rede de informática, de fibra ótica e telefonia. Portanto, não há como expandir sem uma infra-estrutura dessas. Então, nós trabalhamos muito na parte de novos procedimentos e novos equipamentos que também vieram via SETI, vieram respiradores e vários outros para a Unidade de Internação Feminina. Até onde eu sei seremos o único hospital do interior, quem sabe até do Paraná, que vai atender a área de Infertilidade, vamos fazer fertilização in vitro a partir de embriões humanos, e todos os equipamentos necessários foram comprados pela SETI.
SETI: Como está o projeto Transplante da Medula Óssea?
FRANCISCO EUGÊNIO: Nós já estamos fazendo o cadastramento de doadores potenciais de medula óssea, que será incluído numa relação nacional, e aguardamos o credenciamento do Ministério da Saúde. O transplante de medula óssea propriamente dito será feito em conjunto com a Fundação FAOR, que está auxiliando na aquisição de equipamentos como o radiador de células. Pretendemos neste ano ainda abrir licitação para reforma de uma área física onde funcionará essa unidade. A partir de 2008 começaremos a atender os primeiros casos de transplante de medula óssea. Claro que os medicamentos também têm que chegar.
SETI: O senhor diria que este é um dos projetos mais importantes?
FRANCISCO EUGÊNIO: O projeto é muito importante, coloca mais uma vez o HU não só na dianteira na região, no interior do Estado, como em relação aos procedimentos de alta complexidade. De nada adiantaria este processo se a lavanderia não funcionasse, ou se não tivesse vapor, o anel de fibra ótica, e assim por diante. Então, nós procuramos dosar as coisas ao mesmo tempo, ou seja, novas enfermarias, novos procedimentos técnicos e tecnológicos, caminhando junto com a recuperação da infra-estrutura. Eu tenho usado um termo para tentar motivar as nossas equipes e isso fica claro na cabeça dos nossos técnicos, chefes e diretores que é o seguinte: o HU vive três tempos juntos, porque nós estamos recuperando e temos que atender a demanda presente a fim de nos prepararmos para o futuro. Esta é a diferença, ganhar um hospital pronto que você não tem que recuperar nada do passado, nós não. Nós temos que recuperar tudo que estava abandonado há anos, com o cliente batendo à nossa porta, e nós temos que atender. Nós temos que continuar ensinando o nosso aluno, capacitando os nossos profissionais de graduação e pós-graduação. Ao mesmo tempo, preparando-se para as demandas do futuro, as novas tecnologias, a terapia celular, as células-tronco, nós temos que ir atrás.
SETI: Qual a média de atendimento no HU?
FRANCISCO EUGÊNIO: Nós fazemos cerca de sete mil consultas/mês no pronto-socorro e entre 12 e 13 mil nos ambulatórios. Além disso, o HU faz uma média de mil internações/mês e 600 cirurgias/mês.
SETI: E na Unidade de Internação Feminina?
FRANCISCO EUGÊNIO: Nós temos 47 leitos nessa unidade, com uma qualidade completamente diferente, com condições ideais de trabalho, normas de segurança, tudo.
SETI: E quanto ao corpo clínico?
FRANCISCO EUGÊNIO: A nossa população é de cerca de 1.800 funcionários, 1.400 alunos de graduação e pós-graduação e aproximadamente 400 docentes. Destes, uma parte é de médicos, funcionários do hospital, não são docentes, é um bom contingente. O HU praticamente não tem serviços terceirizados, eles são poucos. Nos temos ambulatório, laboratórios, tem tudo.
SETI: Há quanto tempo o HU vem passando por essas reformas?
FRANCISCO EUGÊNIO: De quatro anos para cá houve uma mudança significativa. Justiça seja feita: O que nós estamos tendo são problemas crônicos que deveriam ter sido resolvidos lá no passado. Houve um grande investimento em 2003, nós colocamos para funcionar duas unidades. Sempre em época de mudança de governo é complicado, mas mesmo assim nós conseguimos colocar para funcionar duas unidades, o Hemocentro e a Hemodinâmica. Porém, a partir de 2004 nós sentimos uma presença mais viva do Estado em investimentos e custeio, e nós conseguimos avançar muito mais.
SETI: Então, o senhor diria que está havendo uma evolução.
FRANCISCO EUGÊNIO: Sim, uma evolução significativa em investimentos. E eu falo sem fazer propaganda política ou coisa que o valha, a transformação que o hospital está passando é algo que salta aos olhos. Estamos fazendo obras em cima de obras. Mal possuímos um prédio já vamos construindo outro porque temos dinheiro, estamos preparados. E com isso foi possível ampliar o número de atendimentos. Não é só atender, eu volto a dizer que envolve a qualidade, demos um salto muito grande em relação à qualidade. É outra conversa, estou falando de dignidade, não estou falando de um box separado por divisória de madeira com quatro cortininhas, eu estou falando de consultórios de alvenaria com banheiro, com lavatório, com privacidade, conforto. Nós queremos melhorar a qualidade. Tem setores do hospital que é de primeiro mundo, vamos transformando passo a passo. Nós sabemos que não adianta falar “eu quero 50 milhões para fazer o prédio novo, não dá”, nós temos que continuar atendendo as pessoas. O hospital da zona sul está sendo renovado, idem a zona norte, e sem fechar as portas, e é o que nós também estamos fazendo.
SETI: Com os investimentos realizados no HU o que a população que é atendida ganha?
FRANCISCO EUGÊNIO: O Estado proporcionou o respeito e o resgate da cidadania e da dignidade humana. Aqui, nós não fazemos distinção na porta de entrada, atendemos todos com dignidade. Não só na qualidade da assistência, mas também quanto à oferta de novos serviços, que antes a população não tinha acesso, por exemplo, quanto à infertilidade. Todo mundo tem direito, mas com uma vírgula mais para quem tem menos. Quem tem menos leito tem mais atenção, mais cuidado, mais respeito. Essa é a grande mudança, aí que o dinheiro aplicado faz diferença, da forma como ele é aplicado é possível executar políticas sociais de fato.