Educação também se constrói com ciência e tecnologia 21/03/2007 - 16:10

Prof. José Tarcisio Pires Trindade * 
Quando discorremos sobre o progresso científico (resultado da construção do conhecimento), quando falamos sobre a ciência e a tecnologia que a humanidade construiu, ficamos maravilhados com muitos de seus resultados. Ao homem da ciência, entretanto, cabe a indagação: se tantas maravilhas trouxeram a ciência e a técnica por que a humanidade chegou a um ponto de temer seu futuro e duvidar de sua permanência na terra?
Ocorre que tanto uma como outra, a ciência e a tecnologia, foram sistematicamente apropriadas, predominantemente, por aqueles que perseguiram o lucro insaciável devorando os recursos naturais de modo irrefreável, esgotando todas as formas de exploração do trabalho humano.
Estamos vivendo um momento crucial para a humanidade, um momento de necessária mudança de rumo, um momento em que a inovação possível com a ciência e a tecnologia que o homem constrói seja direcionada para um novo patamar que rompe com o ciclo de exploração para o lucro (seja dos recursos naturais seja do trabalho humano) para um novo e virtuoso ciclo que mire a harmonia entre os homens e entre os homens e a natureza.
Ciência, tecnologia e inovação, tríade invocada em documentos, planos, metas e discursos, não pode ter sobrevivência ou referência em si mesma. Ciência, tecnologia e inovação estão inseridas em modos de visão de mundo e em nossa visão de mundo elas não podem e não devem servir para a manutenção do modus vivendi atual. No nosso modo de entender não cabe o uso da técnica e da ciência para a conservação de um mundo que vem sendo construído de maneira a retirar o homem de sua rota de vivência digna e solidária. A manutenção do atual estado de coisas é de um horizonte sombrio, fruto do uso do conhecimento acumulado pela humanidade em favor da exploração desenfreada dos recursos naturais em benefício de poucos e que, na continuidade desse ritmo, não será de benefício para ninguém já que coloca em risco a própria sobrevivência no planeta.
A ocasião me sugere citar o governador Roberto Requião (em seu discurso no lançamento do Plano de Desenvolvimento Econômico Educacional – PDE) que ao falar da educação afirmou que ela deve ser uma arma de mudança na “busca da fraternidade, da igualdade, com a perseguição da utopia de um mundo solidária, seguro, que respeite e preserve o meio em que se vive, que faça da terra um lugar bom de se viver, feliz e justo”. E educação também se constrói com ciência e tecnologia.
Prezados colegas professores, homens da ciência, homens políticos, seres humanos simplesmente, o desafio que temos pela frente é enorme e devemos ser ousados, devemos ser questionadores, devemos ser inquietantes, devemos ser inconformados, pois a ciência e a tecnologia não estão com o rumo traçado tal qual um caminho sem volta. Devemos pensar na produção da ciência e da tecnologia como instrumentos que modifiquem a trajetória atual: em primeiro lugar, na construção de uma nação soberana, rompendo com a dominação, com o atraso, com a subserviência e atrelamento ao pensamento dominante que nos trouxe até aqui numa situação de desigualdade e desarmonia, onde a boa vivência de poucos tem significado a quase não sobrevivência da maioria. Em segundo lugar, utilizando todo o conhecimento humano, que é fruto do trabalho coletivo e solidário de gerações, para o bem da humanidade, para a sobrevivência digna de todos os homens do nosso planeta.
Conclamo a todos a trabalhar nesse espírito em nossas tarefas diárias, em nossos afazeres acadêmicos, em nossas decisões que vão indicar que caminho nossa produção científica deve seguir.
A Fundação Araucária, como parte do sistema de ciência e tecnologia do Paraná e do país, construída pelo esforço da comunidade científica, deve estar cada vez mais inserida neste debate. E o momento que estamos vivendo é muito propício, resultante de um trabalho profícuo destes últimos quatro anos, que alçou a Fundação Araucária para um patamar de visibilidade, confiança e respeito perante a comunidade cientifica paranaense e brasileira. Trabalho este apoiado pelo governador do Estado, Roberto Requião, com a participação efetiva do ex-secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, professor Aldair Rizzi, seguido do trabalho da atual secretária, professora Lygia Pupatto, em que nesta ocasião aproveito para parabenizar, assim os diretores que estiveram à frente da Fundação neste período: seu presidente, professor Jorge Bounassar; seu diretor professor Osmar Muzilli, e seu diretor administrativo, professor Fernando Gimenez.
Quero cumprimentar também a comunidade científica paranaense que não tem medido esforços, com seu trabalho que dá suporte ao funcionamento da Fundação por meio de seus comitês assessores e consultorias que realizam de modo voluntário e competente. Aos servidores da Fundação pelo trabalho ágil e de qualidade que desenvolvem no atendimento, orientação e gestão dos projetos submetidos.
Agradeço a confiança em mim depositada pela secretária Lygia Pupatto, pela indicação, e ao Conselho Superior da Fundação pela confirmação de nosso nome para o cargo. Espero corresponder às expectativas não medindo esforços para que a Fundação Araucária, ao apoiar os projetos para o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação, seja parte do instrumento para as mudanças necessárias que transforme o Paraná em um Estado solidário e fraterno, colaborando assim com a formação de uma sociedade brasileira autônoma como nação detentora de um conhecimento libertário e inovador para a vivência harmoniosa entre homens e entre estes e o meio em que vivem.
* José Tarcisio Pires Trindade (professor licenciado do Departamento de Informática da UEM) é presidente da Fundação Araucária, com Doutorado em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/COPPE, com um ano de especialização no Politécnico de Milão (Itália).