Ignacy Sachs fala sobre o futuro dos biocombustíveis 12/11/2007 - 14:32

12/11/2007
“Não dá para dormir no ponto e nem cair no ufanismo”
Na palestra que fez na última sexta-feira, durante o I Encontro de Ciência e Tecnologia da Seti, em Londrina, sobre agroenergia, o economista Ignacy Sachs, co-diretor do Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS), disse que o Brasil deve insistir no potencial de conservação de energia e no aproveitamento de resíduos e refletir sobre como reduzir a competição por terras cultiváveis entre a produção alimentar, a preservação das florestas e ecossistemas e a produção de biocombustíveis.
O evento reuniu cerca de 500 participantes, entre estudantes, professores e pesquisadores, que tiveram a oportunidade de acompanhar, durante três dias, no campus da Universidade Estadual de Londrina, palestras e mesas-redondas com temas sobre praticamente todas as áreas do conhecimento. A palestra do economista Sachs, no Cine Com-Tour, discutiu “A agroenergia como alavanca de desenvolvimento rural includente e sustentável”.
Nela, Sachs ressaltou o potencial das terras cultiváveis do Brasil e chamou atenção para a necessidade urgente do zoneamento ecológico e econômico. Também falou sobre a civilização moderna de biomassa. “O etanol brasileiro é de longe o mais competitivo do mundo. A razão do sucesso está na pesquisa agronômica e biológica sobre a cana de açúcar e no Proálcool, que é de nível internacional. Mas é bom não dormir no ponto e nem cair no ufanismo”, afirmou.
O economista observou que os Estados Unidos estão jogando alto com o etanol, mas que o Brasil tem vantagens naturais e permanentes por ser tropical. “Estas vantagens têm que ser potencializadas por meio de um grande esforço de pesquisa e de organização do processo produtivo”. De qualquer forma, concluiu, ainda há muito a ser feito. Conforme Sachs, os EUA tornar-se-iam independentes da importação de petróleo graças a um gigantesco programa de produção de biocombustíveis que envolveria 1 bilhão de toneladas de biomassa por ano. Essa estratégia é baseada na produção do etanol celulósico a partir de todos os tipos de resíduos vegetais, procedimento "que o Brasil já conhece, mas não pratica", de acordo com Sachs.
Sachs também falou sobre a nova civilização verde, baseada na biomassa, numa nova matriz energética e na agricultura familiar. Ele considerou desde o desenvolvimento de fontes energéticas não-convencionais (inclusive com a produção local em pequena escala) até a evolução dos meios de transporte e a conservação de energia (perspectivas para o automóvel do futuro e a contribuição brasileira com o motor biflexível, por exemplo).
Sobre o automóvel, Sachs destacou que esta não será uma questão fácil de enfrentar, mas que não pode ser colocadas em termos de “preto e branco” porque já existem pesquisas apontando para a possibilidade de se reduzir drasticamente consumo de combustíveis a partir de uma geração de veículos menores. “Um elemento fundamental nesta discussão será o transporte público em meio urbano”, afirmou.
Biografia
Nascido na Polônia em 1927, Sachs já publicou "Ecodesenvolvimento: Crescer sem Destruir (1986), “Espaços, Tempos e Estratégias do Desenvolvimento" (1986), "Extrativismo na Amazônia Brasileira: Perspectivas sobre o Desenvolvimento Regional" (1994) e "Estratégias de Transição para o Século 21: Desenvolvimento e Meio Ambiente" (1993).