No Dia do Índio, um balanço animador de um vestibular muito especial 17/04/2008 - 17:40

A curiosidade natural de Joel Batista Féjñnag Cordeiro deve proporcionar nos próximos anos um incremento no nível cultural geral da comunidade indígena Kaingang do município de Manoel Ribas, na região central do Paraná. Aos 28 anos, Joel é um dos 16 estudantes de ascendência indígena que freqüentam um curso superior da Universidade Estadual do Centro-Oeste, a Unicentro, baseada em Guarapuava.
Joel, acadêmico de Enfermagem no campus Cedeteg, pretende retornar para sua tribo, seguindo os passos das professoras Rosângela Gonçalves e Maria Eufrásio, ambas Kaingang e lecionando no município de Mangueirinha, Centro-Sul do Estado. “Pretendo colocar em prática lá tudo que aprender aqui”, reforça, completando: “A gente tem uma ajuda especial da nossa tutora, sem falar dos amigos que a gente faz por aqui”, em uma referência à professora Déa Silveira, presidente da Comissão Universidade para os Índios (CUIA).
É a CUIA quem sistematiza as ações do Vestibular Indígena, projeto que engloba também a UEL, UEPG, UEM, Unioeste, UENP, Unespar e UFPR, e visto como inédito em âmbito nacional. Em cada processo seletivo, seis vagas são reservadas para as instituições estaduais e sete para a UFPR. No mais recente, no final do ano passado, concorreram membros de 14 etnias. Na Unicentro, atualmente, estão 14 índios Kaingang e dois Guaranis, alunos de vários cursos, como Agronomia e Ciência da Computação, entre outros, e nos campi Santa Cruz, Cedeteg (ambos de Guarapuava), Pitanga, Chopinzinho e Laranjeiras do Sul.
Para tentarem uma das vagas ofertadas no 7º Vestibular Indígena dos Povos do Paraná, cada pretendente passou por avaliações orais, sobre temas como Arte em Cerâmica, e por provas escritas (Redação, Química, Língua Portuguesa, etc). Déa lembra que, no exame de língua estrangeira, era possível optar entre Inglês, Espanhol, Kaingang e Guarani. “Um ponto de destaque é que a escolha do curso é feita somente após a aprovação, por meio de uma orientação da Cuia, que, após esta etapa, apresenta os alunos aos departamentos pedagógicos e seus docentes”, esclarece Déa, sempre sorridente com o desempenho de seus pupilos, como Joel.
“A Universidade está sendo algo muito bom na minha vida, pois posso aprender o máximo de conhecimento”, finaliza o estudante, atestando indiretamente o sucesso da proposta integrada das instituições envolvidas, o que pode ser comprovado também pela evolução dos números do concurso – em 2003, eram 62 concorrentes para 18 vagas. Em dezembro passado, as 49 vagas foram disputadas por 217 índios.