Pesquisa mostra hábitos de macacos-prego do Campus da UEL 22/02/2017 - 11:36

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Avaliar o comportamento do grupo de macacos-prego que habitam há mais de 30 anos a área verde do Campus da UEL e alertar a comunidade universitária para uma convivência pacífica com os animais. Estes são alguns dos objetivos do projeto de pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa de Comportamento Animal, do Departamento de Biologia Animal e Vegetal (BAV) do Centro de Ciências Biológicas (CCB), iniciado oficialmente em 2016. Os primeiros estudos iniciaram um ano antes, a partir da necessidade apontada pela Prefeitura do Campus para alertar a comunidade interna sobre procedimentos com os animais, que comumente são vistos próximos a salas de aula, laboratórios e demais unidades.

O grupo de pesquisa é formado por estudantes de graduação e pós-graduação, um agente universitário, além da professora Ana Paula Vidotto Magnoni, coordenadora da pesquisa. Os estudos focam os hábitos dos animais, dieta alimentar, além da observação do impacto das ações informativas junto à comunidade. Para dar uma dimensão maior, o grupo de pesquisa mantém uma página no Facebook (Macacos prego da UEL), com mais de 700 seguidores, onde compartilha informações, fotos, vídeos e mensagens. Pelo menos quatro trabalhos científicos estão em andamento.

Os pesquisadores já mapearam que o grupo da UEL é composto por 26 animais, sendo seis fêmeas. Uma curiosidade é que o grupo tem hoje quatro bebês, todos machos. Os hábitos do grupo começam a ser conhecidos. A mestranda Mariana Lorenzo e o estudante de graduação Leandro Dias passaram os últimos 12 meses literalmente atrás dos macacos para quantificar e entender os hábitos dos animais. Eles identificaram cada um deles pelas características faciais e até corporais.

Quem trabalha com primatas tem de aprender a considerar estas particularidades. Macacos, assim como os seres humanos, possuem feições e expressões próprias que podem ser identificadas. Os animais ganharam apelidos Harry, João, Tico, Juca, Hanks, Zoe, Lu, Brow, Dixie.

De dia o grupo percorre ou prefere vários locais como Centro de Tecnologia e Urbanismo (CTU), Centro de Estudos Sociais Aplicados (CESA), Centro de Ciências Agrárias (CCA) e as áreas verdes existente nas proximidades do Núcleo de Estudos da Cultura Japonesa (NECJ) ou da Capela, no Calçadão. Eles tem também vários dormitórios, entre eles a mata da Fazenda Escola.

Embora possam parecer uma atração, os macacos são considerados perigosos pela comunidade universitária, despertando medo e até o desejo de que o correto seria remover todo o grupo para outro local. A convivência não é a desejável ou amistosa. “Queremos disseminar informações para que a comunidade entenda e se conscientize de que é possível conviver”, resume a professora Ana Paula. Ela propõe uma mudança de olhar sobre o grupo. Como um animal silvestre, o macaco reage quando se sente ameaçado. Da mesma forma o grupo tem atitudes para se proteger. As fêmeas tem filhotes e acabam tendo as reações naturais quando entende que as crias correm algum perigo. Como acontece nos grupos de animais, há um macho dominante, que tem a preferência das fêmeas. Não raro existem brigas entre os machos, na disputa pelas parceiras.

Uma das linhas de pesquisa desenvolvida pelo grupo foca os hábitos alimentares. Ao contrário do que a comunidade acredita, o Campus e suas áreas verdes oferece comida em abundância ao grupo. A dieta é rica, baseada em folhas, insetos e frutos. Os pesquisadores concluíram que eles se alimentam de mais de 70 tipos de plantas, entre elas sementes de árvore 7 Copas, araçá, ingá, cereja do campo, coquinho e palmito, frutas como goiaba, jaboticaba e pitanga. O hábito de revirar lixeiras ou de buscar alimentos dos seres humanos se dá pela facilidade, embora os estudos demonstrem que esta comida faz mal à saúde, provocando diabetes, problemas nos dentes. Há relatos também de alteração da pressão sanguínea.
“Entendemos que existe ainda o efeito do vício, uma vez que o animal, assim como o ser humano, pode desenvolver este comportamento. Por isso a aproximação com o homem é desaconselhável”, afirma a coordenadora da pesquisa.

Animais não são transmissores de febre amarela

O aumento no número de casos de febre amarela tem despertado dúvidas sobre os procedimentos para evitar a doença, entre eles a vacinação, que, de acordo com o Ministério da Saúde, só é recomendável para as áreas de risco. Até o momento, foram confirmados 234 casos de febre amarela silvestre no país e há outros 877 em investigação, sendo 84% dos casos relatados em Minas Gerais.

De acordo com a professora Ana Paula, os macacos não transmitem a doença. Há duas formas de transmissão de febre amarela - a silvestre e a urbana. Na silvestre, a infecção é entre macacos e mosquitos silvestres, que só vivem na floresta. Se uma pessoa entra na floresta e é picada por esse mosquito pode se infectar com o vírus, caracterizando posteriormente a febre amarela urbana.

A professora destaca que a partir deste mês de fevereiro, o grupo de pesquisa vai trabalhar de forma integrada com o Grupo de Trabalho de Vigilância e Controle do Aedes da UEL. O objetivo é ampliar o raio das ações desenvolvidas para o controle da doença. Uma ação prática possível e que pode ter um grande efeito é evitar a alimentação dos macacos pelos humanos, concentrando os animais em locais definidos, reduzindo a interferência e a convivência.

Ana Paula alerta, no entanto, que o problema de contaminação poderia ocorrer com a chegada de algum animal doente. Ela afirma que falta controle mais efetivo para evitar o tráfego de animais silvestre como répteis, aves e até espécies maiores. Os relatos de descobertas deste tipo de ação via malote de correios são cada vez mais comuns, sem considerar as apreensões por parte dos órgãos de fiscalização ambiental.

Outro fator importante, afirma ela, seria a realização de exames preventivos nos animais do Campus da UEL e no grupo que habita a área do parque Artur Thomas. Em Maringá, a Secretaria de Meio Ambiente (Sema) está realizando o controle epidemiológico de mais de 500 macacos-prego no Horto Florestal. Semanalmente são coletadas amostras de sangue e encaminhadas para o laboratório da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, em Foz do Iguaçu.

Regras de convivência

• Não alimente os macacos. Eles possuem dieta natural composta de insetos, sementes e frutos coletados nas áreas verdes.
• Existe abundância de alimentos no Campus, tanto que pesquisadores levantaram mais de 70 itens diferentes da dieta.
• O alimento humano atraí o macaco-prego pela facilidade de encontrá-lo, mas pode prejudicar a saúde dos animais.
• Evite jogar restos de alimentos nas lixeiras abertas. Elas podem ser atrativas para os animais, mesmo com comida abundante.
• Ao contrário do que se pensa, o grupo de macacos-prego da UEL é composto apenas por 26 membros, a maioria fêmeas e quatro filhotes machos.
• O grupo tem atitudes para se proteger. As fêmeas acabam tendo reações naturais quando entendem que as crias correm algum perigo.
• Há um macho dominante, que tem a preferência das fêmeas. Não raro ocorrem brigas entre machos, na disputa pelas parceiras.
• Não sorria para o macaco. Mostrar os dentes pode ser interpretado como provocação.
• Não se aproxime dos animais. Eles andam sempre em grupo e podem reagir se entenderem que existe uma ameaça.
(Fonte: Grupo de Pesquisa de Comportamento Animal da UEL)