Couro do peixe é fonte de renda e de preservação ambiental no litoral e interior do PR 08/04/2009 - 10:30

Recém-formada no curso de administração, Gisele Cristina de Julio Pucci conseguiu se firmar profissionalmente através do Projeto “Couro do Peixe”, uma iniciativa da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior (Seti), por meio do Programa Universidade Sem Fronteiras. Gisele conheceu a área de Gestão Ambiental depois de trabalhar como bolsista no projeto. “Trabalhar no projeto me inspirou a fazer uma pós-graduação em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. A idéia é transformar Pontal do Paraná em uma cidade pólo em Couro do Peixe”.
O projeto ensina as moradoras de cidades do litoral do Paraná a realizar o curtimento do couro do peixe que, posteriormente, pode se transformar em bolsas, peças de vestuário e outros. Segundo a coordenadora do projeto Kátia Kalko Schuwarz, os trabalhos com couro do peixe iniciaram em 2004. Em 2007, quando o Universidade Sem Fronteiras foi lançado, os trabalhos foram incorporados ao programa.
O projeto foi aplicado inicialmente em Guaratuba, a um grupo de quatro mulheres que formaram uma associação e hoje envolve 14 pessoas. Posteriormente, o projeto expandiu-se e foi implantado também em outras cidades. “Neste ano, o projeto está sendo desenvolvido em Pontal do Paraná. A prefeitura cedeu espaço para ministrar o curso de Curtimento da Pele do Peixe, que tem duração de quatro a cinco dias. Depois disso, é feito um acompanhamento, até que as participantes passam a fazer o curtimento da pele do peixe sozinhas”, afirma Kátia.
O couro do peixe passa por sete processos: a retirada da pele do peixe, o congelamento, a limpeza, um processo químico para transformar a pele em couro, o tingimento através de outro processo químico, a fixação da cor e, por fim, o couro é cortado para ser comercializado. O couro é vendido para artesãos e, principalmente, para estilistas de moda. O couro do peixe linguado, por exemplo, que é o de maior aceitação no mercado, varia de R$ 400,00 a R$450,00 o quilo, enquanto o valor do couro dos demais peixes oscila entre R$ 200,00 e R$ 250,00.
Uma das grandes preocupações no processo de curtimento da pele do peixe é a redução do elemento químico cromo, que é um metal pesado, altamente poluente e cancerígeno. No Brasil, todo curtume que utiliza cromo em seus processos químicos deve ter, obrigatoriamente, licença do Exército e ser controlado periodicamente pela Polícia Federal para seu funcionamento.
Para solucionar este problema, a professora e pesquisadora Ramona Esther Núñez foi convidada para ministrar, aos integrantes do projeto, um curso de reciclagem sobre o curtimento da pele de peixe, que havia feito em 2007, em Buenos Aires, Argentina. Ela afirma que o curso é uma inovação na área de curtimento de pele de peixe. “Na Argentina, aprendi a fazer o curtimento com produtos biodegradáveis, livre de metais pesados, sem o uso do cromo. Com a utilização desse processo, o couro do peixe fica melhor, mais aveludado e muito mais bonito”, finaliza.
O oceanólogo e orientador do projeto, Euler Batista Erse, está elaborando um novo projeto relacionado ao couro do peixe e que será enviado à Seti em breve. Intitulado ‘Uma alternativa de trabalho e renda para o litoral paranaense’, o projeto de Erse visa o fortalecimento do Curtume de Pontal, que irá atender à população da Ilha do Mel e cidades vizinhas. “O projeto prevê qualificação ambiental e a rotulagem do produto. Pretendemos ainda conseguir os selos de qualidade ambiental em nível internacional, preparando o produto para a exportação”, afirmou.
Esse projeto do Couro do Peixe ainda inclui uma parceria estabelecida com uma escola municipal de Pontal do Paraná. De acordo com a acadêmica de Ciências Biológicas e bolsista do projeto, Miriam Cristina Gualdezi, são realizadas palestras sobre educação ambiental para crianças do ensino fundamental. “No Programa Universidade Sem Fronteiras, além de estar desenvolvendo atividades que com certeza irão me ajudar depois de formada, tenho a oportunidade de trabalhar com a comunidade, ajudando na divulgação de idéias sócioambientais, para que futuramente melhore o meio em que vivemos. Isso eu considero uma oportunidade única na minha vida”, disse.
Couro do peixe gera renda também no interior
Outro projeto do Universidade Sem Fronteiras que produzirá artesanato a partir do couro do peixe é o “Curtimento ecológico de peles animais da confecção de artesanato”. Desenvolvido pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus de Toledo, em parceria com a Associação de Artesãos de Boa Vista da Aparecida, o projeto está em fase inicial. A expectativa em relação ao impacto a ser gerado, porém, é grande.
A comunidade poderá confeccionar bolsas, cintos, sapatos, mochilas, bijuterias, entre outras peças. “É uma forma de agregar valor a um produto que hoje é um problema de impacto ambiental. Além disso, pode-se produzir peças bonitas e dar oportunidade para que a comunidade aprenda algo diferenciado e melhore a sua renda”, ressalta a coordenadora do projeto Márcia Maluf, bioquímica e pesquisadora do Grupo de Estudos de Manejo na Aqüicultura (GEMAq).
No projeto da Unioeste, estarão envolvidos acadêmicos e recém-formados dos cursos de Química, Engenharia de Pesca e Zootecnia. Eles ensinarão a comunidade de Boa Vista da Aparecida e região a confeccionar o couro da tilápia e do pacu. “Utilizamos estas duas espécies porque são as de mais fácil acesso na região”, explica a coordenadora.
O acadêmico de Química e bolsista do projeto, Douglas Henrique Fockink, está entusiasmado com a ideia de repassar conhecimento à comunidade. “Estamos estudando a melhor forma de fazer um couro bom. Espero que este projeto contribua com a elevação da  renda das pessoas da localidade”, disse. Agora a coordenadora do projeto está aguardando o processo de licitação de equipamentos, para que a unidade piloto do projeto seja instalada na comunidade.