Inovações propiciam novas perspectivas a artesãos do Litoral 20/05/2009 - 15:50

Tudo começou com a sugestão de dois professores universitários para criar alternativas de aproveitamento ao pescado. A ideia inicial era repassar técnicas de conservação e manejo aos pescadores. Alguns anos depois das primeiras ações, o projeto foi ampliado e ganhou as ruas. Hoje, couro de peixe vira bolsa e a escama vira colar. Desta maneira, moradores do litoral paranaense encontraram uma maneira de aproveitar o que antes era jogado fora.
Para a professora da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (Fafipar), Kátia Kalko Schuwarz, que integra o projeto desde o início, emprego, renda e novas alternativas de realização profissional são alguns dos benefícios proporcionados aos artesãos. “Tem mulher de pescador que nem precisa sair de casa para trabalhar, pois vende o couro que limpou e que depois será curtido e utilizado para criar novos produtos”, conta.
O projeto da Fafipar está sendo executado por meio do Programa Universidade Sem Fronteiras, uma iniciativa da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior (Seti). Através de equipes multidisciplinares formadas por educadores, profissionais recém-formados e estudantes das universidades e faculdades públicas do Paraná, são realizadas ações em mais de 280 municípios, com o objetivo de minimizar as desigualdades regionais.
Até que seja comercializado, o couro do peixe passa por sete processos: a retirada da pele, congelamento, limpeza, um processo químico para transformar a pele em couro, o tingimento, por meio de outro processo químico, a fixação da cor e, por fim, o corte do couro para ser comercializado.
O couro produzido pelos moradores do litoral é vendido principalmente para estilistas. O couro do peixe linguado, por exemplo, que é o de maior aceitação no mercado, varia de R$ 400 a R$450 o quilo, enquanto o valor do couro dos demais peixes oscila entre R$ 200 e R$ 250.
Segundo a professora Kátia, “o projeto dá experiência profissional aos estudantes. As portas se abrem quando o empresário descobre que os universitários trabalharam em um projeto de extensão”, comemora. A professora pensa até em contar a experiência em um livro. “É uma maneira de ampliar a iniciativa, permitindo que mais pessoas tenham acesso ao programa”, explica.
Parcerias - Os coordenadores da iniciativa querem melhorar a nova cadeia produtiva formada, já que esse é considerado um mercado promissor. “Outras instituições foram juntando-se ao projeto. O Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) é responsável pelas análises dos resíduos do processamento do couro, por exemplo”, afirma Kátia. A professora cita também a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), que está desenvolvendo um equipamento utilizado para curtimento e tingimento do couro a um custo muito inferior ao disponível no mercado. A universidade também desenvolve um projeto de aproveitamento do couro de peixe.
Uma escola municipal do Pontal do Paraná também é parceira da iniciativa. De acordo com a acadêmica de Ciências Biológicas e bolsista do projeto, Miriam Cristina Gualdezi, são realizadas palestras sobre educação ambiental para crianças do ensino fundamental. “No Programa Universidade Sem Fronteiras, além de estar desenvolvendo atividades que, com certeza, irão me ajudar depois de formada, tenho a oportunidade de trabalhar com a comunidade, ajudando na divulgação de idéias socioambientais, para que futuramente melhore o meio em que vivemos. Considero uma oportunidade única na minha vida”, disse.
Uma nova proposta relacionada ao couro do peixe será apresentada à Seti pelo oceanólogo e orientador do projeto, Euler Batista Erse. Intitulado ‘Uma alternativa de trabalho e renda para o litoral paranaense’, o projeto de Erse visa o fortalecimento do Curtume de Pontal, que irá atender à população da Ilha do Mel e cidades vizinhas. “O projeto prevê qualificação ambiental e a rotulagem do produto. Pretendemos ainda conseguir os selos de qualidade ambiental aceitos internacionalmente, preparando o produto para a exportação”, afirmou.