Paraná avança em ações afirmativas com a inclusão indígena no ensino superior 18/04/2017 - 14:20

Ser protagonista de sua própria história, com mais oportunidades e melhores condições de vida. Este é o sonho de muitos jovens indígenas que ingressam na universidade. Jefferson Gabriel Domingues é um destes jovens, que conseguiu realizar o sonho da formação acadêmica com a realização profissional e hoje é professor e diretor da Escola Estadual Indígena Yvy Porã, na Terra Indígena Pinhalzinho em Tomazina, a 191 km de Londrina.

O dia do índio, 19 de abril, festeja as origens culturais do Brasil, uma forma de valorização dessa cultura é com o Vestibular Indígena, porta de entrada para o ensino superior nas tribos. O Paraná se destaca por valorizar políticas públicas de ingresso nas universidades. Por meio dessa ação do Estado, já são cerca de 200 os estudantes indígenas matriculados no ensino superior nas universidades públicas, somente neste ano. Em 2016, sete indígenas concluíram o ensino superior, entre eles: um advogado, um pedagogo e uma médica.

“Os índios passam a valorizar e ganhar mais espaço na sociedade com o ensino superior, participando de forma efetiva nas áreas onde atuam, com a formação profissional, ” ressaltou o índio Guarani, Jefferson Gabriel Domingues, formado no ano de 2010, em História, pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP).

O presidente da Comissão Universidade para Índios (Cuia), Wagner Amaral, destaca que a formação acadêmica contribui para que os índios tenham melhores condições de vida. “A presença deles nas universidades aumenta a perspectiva da formação de profissionais que conhecem a realidade de suas comunidades e de seus povos, levando maior qualidade nos serviços de saúde, educação, gestão dos territórios, gestão de políticas e projetos sociais”.

Nas universidades públicas são ofertadas 52 vagas para os indígenas: seis em cada uma das sete universidades estaduais e 10 vagas na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Segundo o presidente da Cuia, o vestibular está ganhando cada vez mais atenção e importância nas tribos “A primeira edição do Vestibular Indígena, no ano de 2002, contou com 54 candidatos para 15 vagas e a última edição deste vestibular teve 753 inscritos para 42 vagas. Isso ocorre devido ao significativo crescimento demográfico nas terras indígenas e expansão da oferta de ensino fundamental e ensino médio nas aldeias”.

Da etnia Kaingang, Gilza Ferreira de Souza, formada em Serviço Social na Universidade Estadual de Londrina (UEL), passou a valorizar ainda mais a universidade depois que ingressou na instituição. “Entrei em 2006, sem perspectiva, sem motivação, sem saber ao certo o que é a universidade, o que era morar em uma cidade grande, mas a própria instituição mostrou a importância da formação acadêmica. Como eu poderia contribuir para minha tribo, para sociedade”.

O Vestibular Indígena é organizado no sistema de rodízio, entre as universidades estaduais e a UFPR. Em 2017, a Universidade Estadual de Maringá (UEM) será a responsável pelo processo seletivo. Essa é a terceira vez que a universidade coordena o vestibular. As inscrições podem ser feitas entre os dias 30 de junho a 31 de julho, a estimativa é de ter mais de 600 inscritos. A seleção é feita em duas etapas, primeiro uma prova oral, no 1º dia de outubro. Depois uma prova de redação e conhecimentos gerais, com tópicos como Língua Portuguesa, Matemática, Biologia, História, Geografia e Língua Estrangeira ou Língua Indígena (Guarani ou Kaingang), no 2º dia de outubro.

A presença do índio está cada vez mais evidente dentro das universidades, porém o presidente da Cuia, Wagner Amaral, alerta que há muito pelo que lutar ainda. “Há que se investir ainda para a superação dos preconceitos com os indígenas, o que demanda campanhas para afirmar a oportunidade histórica de termos a presença indígena e seus saberes tradicionais na educação superior”.

Para Domingues relacionar os temas curriculares, conteúdos obrigatórios segundo o Ministério da Educação (MEC), a realidade da aldeia é fundamental. “Eu, como professor de História, posso trabalhar com o meu olhar de índio para os conteúdos, valorizando os nossos sábios da aldeia, que são os detentores dos etnosaberes, mostrando que os nossos etnoconhecimentos podem ser trabalhados de forma paralela com os conhecimentos científicos dentro dos temas propostos no currículo”.

Gilza segue na vida acadêmica, atualmente tem um projeto na UEL, junto ao Programa Universidade Sem Fronteiras. “Realizo um sonho na verdade, continuo na UEL e trabalhando junto com meu povo”, comenta a assistente social.
Três projetos de extensão com a temática indígena foram aprovados pelo Programa Universidade Sem Fronteiras, o que segundo o presidente da Cuia, contribui imensamente para aumentar a relação da universidade com as aldeias.

Entre outras ações da Cuia há a publicação de um livro “Universidade para indígenas: a experiência do Paraná”, em parceria com a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO) e o Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Outra ação importante foi a criação do Ciclo Intercultural de Iniciação Acadêmica de Estudante Indígena, na UEL, com o objetivo de auxiliar e acolher os índios que ingressaram no ensino superior. O projeto oferece cursos especiais, retomando conteúdos do ensino médio, com um ano de duração.

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