Programa oferece Certificação Orgânica a produtores 12/09/2016 - 09:10

Há quase 20 anos, José Avilar Rissá cuida de um pequeno sítio na zona rural de Ribeirão Claro, onde vive com a esposa. Ali eles passam o dia cultivando frutas, verduras e legumes. Tudo orgânico, sem nenhum tipo de agrotóxico. Mas nem sempre foi assim. "Nós começamos a plantar orgânicos em 2010. Na época isso ainda era novidade aqui na região. Os outros produtores olhavam meio desconfiados. Não achavam que pudesse dar certo. Mesmo assim investimos", conta Avilar.

A produção na propriedade é acompanhada pelo Programa Paranaense de Certificação de Produtos Orgânicos (PPCPO). No Norte Pioneiro, O PPCPO é coordenado pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), através do Núcleo de Estudos de Agroecologia e Territórios (NEAT) do Campus Luiz Meneghel em Bandeirantes. “O objetivo do Programa é ajudar a fortalecer a produção de alimentos orgânicos no Paraná, por meio do apoio técnico e orientação à adequação da propriedade ao que exige a legislação brasileira sobre este tipo de produção", explica o professor-doutor Rogério Macedo, coordenador do NEAT. "Cada Núcleo de Certificação conta com profissionais e estudantes de Agronomia e de outras áreas. Os profissionais também são formados em Auditoria da Produção Orgânica pelo TECPAR”, complementa.

Para participar do programa, o interessado tem que ser agricultor familiar e possuir a Declaração de Aptidão (DAP) ao PRONAF. O processo de certificação é gratuito. Segundo Maria Eliza Galiardi, engenheira agrônoma do PPCPO na UENP, esse é o diferencial do Programa. "Geralmente, esses produtores não têm condições de arcar com os custos de uma certificação. Nós fazemos todo esse acompanhamento de graça. O que ganhamos com isso é o conhecimento que adquirimos como Universidade e a satisfação de vê-los certificados", disse.

Depois que conseguiu a certificação orgânica, a produção do seo Avilar começou a ganhar mercado. Tudo que é produzido na propriedade é encaixotado e segue para Ourinhos (SP), onde os produtos são entregues a uma rede de supermercados. "Sem a certificação não teríamos como vender para supermecados, por exemplo. A certificação é o que nos dá o respaldo para a entrega. E hoje temos percebido que o orgânico tem conseguido cada vez mais espaço no mercado. Estamos felizes", comemora Avilar.
Como funciona

A visita ao produtor é o primeiro passo para o processo de Certificação Orgânica. Os técnicos do PPCPO conferem se a propriedade tem (ou teve recentemente) algum plantio com uso de agrotóxico e analisam se o uso desses produtos nas propriedades vizinhas não inviabilizam a produção de orgânicos. "Às vezes o produtor vizinho faz uso de agrotóxicos e, sem perceber, acaba contaminando a área destinada para o plantio. E nós precisamos ter certeza de que não haverá nenhum tipo de contaminação. Para isso o produtor precisa tomar algumas precauções como construir uma cerca vegetal que proteja sua área de plantio, por exemplo", explicou Diego Contiero, biólogo e auditor do PPCPO.

O Programa também orienta nas adaptações necessárias, caso a área escolhida para o plantio não esteja de acordo com o que exige a legislação. "Nós sempre reforçamos aos produtores que existem formas de melhorar a qualidade da terra e combater pragas sem usar agrotóxicos. Esse é o caminho que mostramos a eles. O caminho do manejo orgânico", disse Maria Eliza Galiard. "Hoje, eles mesmos começam a perceber a importância disso. Nós já tivemos produtores que foram intoxicados com agrotóxicos e que resolveram partir para o orgânico", afirma. Somente depois que o produtor toma todas as medidas necessárias e passa por uma auditoria, é que ele recebe a certificação.

Inês Sasaki é uma produtora de Carlópolis, cidade vizinha a Ribeirão Claro. Há 18 anos, ela planta frutas e verduras no sítio da família para vender na feira da cidade. O plantio ainda é convencional, mas Inês está disposta a trabalhar com orgânicos. "Eu sempre tive vontade. Principalmente por ser um produto mais saudável, sem veneno. Eu já comprei tomate que dava até pra sentir o gosto do agrotóxico e tive que jogar fora" conta.

A coragem para começar a plantar orgânicos veio depois que Inês soube da existência do projeto. Ela acredita que uma assistência técnica é fundamental para que nada saia errado. "Esse projeto é uma ajuda e tanto. Aqui na nossa propriedade, nós só usamos agrotóxicos quando não tem jeito. Mas eu não gosto. O que a gente não quer pra gente, não devemos desejar para os outros, né?", conclui.

PPCPO - O PPCPO é uma política pública da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (SETI) em parceria com o TECPAR, EMATER e Rede EcoVida; e executada pelos Núcleos de Certificação instalados nas Universidades Públicas Estaduais e no Centro Parananse de Referência em Agroecologia (CPRA), em Curitiba. O objetivo é oferecer certificação gratuita para produtores da Agricultura Familiar do Estado. O Programa também capacita a comunidade acadêmica para atuação em serviços de extensão rural, formando mão de obra qualificada para o Estado e promovendo a inserção de produtos com o selo “Orgânico Brasil” no mercado. O Tecpar realizou investimentos na qualificação de profissionais das instituições parceiras, seguindo a regulamentação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

No Norte Pioneiro, a UENP é a responsável pelo Programa. A equipe é formada pelo biólogo e mestre em agronomia Diego Contiero da Silva, e pelos agrônomos Maria Eliza Galiard e Victor Hugo Kovaski. Todos bolsistas do programa. Também fazem parte do Programa os acadêmicos Jean Guerino (Sistemas de Informação) e Gizele Figueiredo (Agronomia). A equipe é coordenada pelo professor-doutor Rogério Macedo. 
p
p