Projeto da UEL ampara vítimas de crimes 10/01/2017 - 16:40

Os assaltos e crimes violentos são cada vez mais frequentes e são uma realidade amarga para as inúmeras vítimas desses crimes. O processo após do crime costuma passar por fases comuns, como ir até uma delegacia e abrir um boletim de ocorrência sobre o ocorrido. Depois disso, é seguir com sua vida e esperar que a justiça seja feita. Mas nem todos se sentem da mesma forma ou conseguem seguir em frente tranquilamente, enfrentando a partir desse momento, a insegurança e medo. "Esses problemas emocionais, quando não trabalhados, podem evoluir para uma fobia", explica a professora Solange Maria Beggiato Mezzaroba.

Foi pensando nessas vítimas que a professora Solange Mezzaroba criou o projeto de extensão "Cuida de mim: amparo às vítimas de crimes e seus familiares", do qual ela é coordenadora.  Ela conta que o projeto surgiu de uma demanda exposta pela juíza Claudia Catafesta, da 2º Vara da Infância e Juventude, e pela psicóloga Aline Fioravanti, que também atua na área da infância e juventude.

"Cuida de Mim" tem como objetivo dar acolhimento e prestar atendimento psicológico aos que sofreram com essas situações traumáticas, criando um espaço no qual todos possam falar abertamente sobre o acontecido e como eles se sentem em relação a isso. Apesar disso, Mezzaroba é enfática ao afirmar que não se trata de uma terapia, mas de um ambiente seguro onde todos poderão ser ouvidos e que caso seja notado que a situação é mais grave do que o previsto, em situações nas quais o trauma seja mais severo, será feito o encaminhamento para clínicas que podem lidar com a situação de uma maneira mais adequada.

Segundo a professora, o que acontece na Justiça é que toda a atenção do juiz é direcionada ao agressor e não à vítima. Apesar de ser a parte mais interessada em saber o curso do seu processo no caso de um roubo ou violação patrimonial, a vítima muitas vezes acaba nem sabendo como essa questão está sendo trabalhada ou qual foi o resultado da ação. "É uma situação paradoxal. Por isso que vimos a necessidade de criar esse projeto, pois a vítima, que é a parte mais sensível de todo o processo, acaba recebendo pouco ou nenhum apoio", explica Mezzaroba.

Em outros lugares do Brasil, como Belo Horizonte, existem projetos semelhantes ao "Cuida de Mim", que oferecem o apoio psicológico, mas também contam com profissionais de outras áreas, como assistentes sociais e advogados. "Aqui a gente está começando com a Psicologia, mas queremos crescer e ter esse apoio de outras áreas. Queremos que o projeto se torne permanente", revela.

Neste período inicial do projeto, de três anos, Mezzaroba comenta que estão sendo priorizados os crimes de roubo, até por já existirem outros tipos de apoio e iniciativas que lidam com casos de violência contra a mulher e abuso infantil, por exemplo.

A principal necessidade do projeto é lidar com esses casos de violação e os traumas que acabam sendo menosprezados pelos outros, até pela frequência que isso acontece. Uma situação tão comum que chega a estar presente até em ditos populares como o clássico "Vão-se os anéis e ficam-se os dedos". "É muito comum vermos gente fazendo piada e brincadeiras com o roubo, até em uma tentativa de ajudar a vítima, mas é uma situação delicada", comenta a professora, argumentando que toda imprevisibilidade dessa violação pode causar traumas severos na parte afetada.

"A vítima pode ter a sensação de que isso vai acontecer de novo, pode se sentir impotente e insegura por saber que ela não possui o controle nessa situação", esclarece Mezzaroba, apontando que a sensação de ter sua privacidade e seu espaço violado - seja em casos em que alguém invade sua casa ou em um assalto na rua - é algo que não pode ser menosprezado. "Não devemos desconsiderar os sentimentos da vítima quando o que queremos é apoiá-la, muito menos diminuir os sintomas ou aquilo que podemos considerar como drama da vítima. É importante para ela e cada um reage de uma maneira muito pessoal", diz.

O projeto reúne um grupo de até 10 pessoas, a cada 15 dias, no Fórum de Londrina, criando um espaço acolhedor onde as vítimas podem falar de maneira aberta sobre o trauma, recebendo o apoio que necessita até porque, como a própria coordenadora ressalta, "todas as situações são importantes para a gente".