Projetos apoiados pelo governo têm soluções de baixo custo 12/01/2009 - 10:27

Projetos apoiados pelo governo têm soluções de baixo custo

O apoio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) a programas e projetos desenvolvidos nas universidades públicas e em instituições de pesquisa do estado está possibilitando que municípios paranaenses encontrem soluções de baixo custo em várias áreas, entre elas a da saúde. Depois de avaliados e aprovados pelo Conselho Paranaense de Ciência e Tecnologia (CCT-PR), os projetos recebem recursos do Fundo Paraná, gerenciado pela secretaria. Atualmente, eles somam mais de 300. A seguir, alguns exemplos de projetos e de resultados:

Cateter implantável

Fabricados em titânio e pesando apenas 20 gramas, os cateteres podem ser implantados em adultos e crianças, segundo o engenheiro mecânico do Instituto de Bioengenharia Erasto Gaertner (IBEG), Ricardo Teixeira. Com um desenho anatômico em forma de gota, os cateteres exigem incisões menores e podem ficar alojados no corpo humano até dois anos.
Essa tecnologia está disponível a um preço bem inferior ao praticado pelo mercado. Atualmente, no Brasil, esse tipo de material, importado, é encontrado por R$ 700,00 até R$ 2.000,00, dificultando o tratamento nas instituições públicas.
O projeto “Desenvolvimento e incorporação de novas tecnologias para elevar a qualidade do processo produtivo de materiais biomédicos” foi apresentado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, pela Liga Paranaense de Combate ao Câncer, mantenedora do Hospital Erasto Gaertner, IBEG e Rede Feminina de Combate ao Câncer.

Diabete tipo 2

A diabete tipo 2, de grande prevalência no homem moderno, está relacionada a fatores fisiológicos, genéticos e alimentares decorrentes das modificações introduzidas pela evolução cultural humana. Mundialmente, a doença é a terceira causa de morte, com incidência de sete em cada cem pessoas e há previsão de que atinja 300 milhões de pessoas em 2025.
O objetivo da pesquisa “Quantificação do impacto da entero-omentectomia adaptativa como estratégia cirúrgica auxiliar no tratamento da Diabete tipo 2” é validar o tratamento da diabete tipo 2 através da utilização da omentectomia-enterectomia, que significa promover uma reengenharia do aparelho digestório fundamentada em bases genético-evolutivas e destinada a corrigir o desequilíbrio causado pelo descompasso entre as evoluções biológica e cultural. As pesquisas mostram que os reflexos da adaptação humana frente a modificações dos hábitos alimentares expõem o homem moderno a uma condição para a qual grande parte da população não está adaptada. O projeto utiliza a análise direta da expressão gênica pré e pós-operatória pelo método de extração de RNA e quantificação via micro-arranjos de DNA e RT-PCR.
Os procedimentos cirúrgicos foram realizados na Sociedade Beneficente São Camilo - Hospital Vicentino de Ponta Grossa com a aprovação da COEP-UEPG (Comissão de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos). A amostra constou de trinta pacientes, com Índice de Massa Corpórea entre 28 e 35 Kg/m2 (grau de obesidade I) com diagnóstico de Diabete 2 no mínimo há dois anos e de controle clínico inadequado. O investimento da Seti, até o momento, é de 714 mil reais entre equipamentos e insumos para o laboratório, além de exames especializados e cirurgia para os 30 pacientes.

Toxoplasmose em gestantes

Outro exemplo de projeto apoiado pela Seti/Fundo Paraná é o “Programa de Vigilância em Saúde da Toxoplasmose Congênita em Gestantes Atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado do Paraná”, que vem sendo desenvolvido por pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Estadual de Londrina (UEL), em parceria com as universidades estaduais de Maringá (UEM) e de Cascavel (UNIOESTE), as secretarias estadual e municipal de Saúde (Londrina) e os ministérios da Saúde, Educação (CAPES) e de Ciência e Tecnologia (CNPq).
O objetivo desse programa é diminuir os casos de toxoplasmose inicialmente nas cidades de Londrina, Maringá, Rolândia e Cascavel. “Todos os municípios paranaenses podem adotar o modelo de vigilância sanitária uma vez que os custos são mínimos, praticamente alguns centavos por habitante”, informa o coordenador da pesquisa, professor Italmar Navarro.
Em Londrina, primeiro município a implantar o modelo, houve uma diminuição dos casos de toxoplasmose segundo informa a bióloga Maria Ruiz Lopes, da UEL. “Isto também deve ser creditado aos agentes comunitários do município. São eles que vão de casa em casa conversar com os moradores e orientá-los”, diz a enfermeira responsável pela Unidade Básica de Saúde do bairro de Panissa, em Londrina, Ana Patrícia Pershum.
Segundo as estatísticas oficiais, mais da metade da população mundial possui anticorpos contra a doença, ou seja, está ou já esteve infectada pelo parasita Toxoplasma gondii. No Brasil, a prevalência varia de região para região. Em Londrina, cerca de 50% das gestantes teriam tido toxoplasmose antes da gravidez (neste caso, não há risco de transmitir a doença aos bebês). Em Rolândia, segundo município a implantar o modelo de vigilância, dados preliminares indicam uma prevalência de 55% em gestantes nessas condições.
O programa prevê a mobilização de laboratórios, hospitais de referência e farmácias municipais e regionais de saúde, bem como o treinamento de médicos e outros profissionais da área. Prevê, ainda, a inclusão do diagnóstico da toxoplasmose no “teste do pezinho” em todos os recém-nascidos.
A toxoplasmose é uma infecção congênita ou adquirida, causada pelo parasita Toxoplasma gondii, que incide em animais e no homem. A toxoplasmose congênita em gestantes – foco da pesquisa – é mais grave quando a mãe é infectada no início da gravidez, podendo ocorrer aborto ou malformações no feto. É considerada uma doença “silenciosa”, de difícil diagnóstico clínico. A mulher infectada pode não ter sintomas ou apresentar sintomas brandos que se assemelham a uma gripe. Crianças infectadas podem apresentar, ao nascer, hidrocefalia e retardo mental, entre outras complicações. As crianças que nascem normais podem desenvolver seqüelas durante a infância e até mesmo na fase adulta.

Aranha marrom

Os pesquisadores do Laboratório de Matriz Extracelular e Biotecnologia de Venenos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) já encontraram no veneno da aranha marrom diversas outras substâncias que poderão ser usadas para o tratamento de lesões necróticas na pele e renais em pessoas picadas por esta espécie de aracnídeo.
A análise experimental do veneno da aranha marrom mostrou ainda a presença de componentes com grande potencial para a produção de remédios, como anticoagulantes, enzimas proteolíticas (proteínas que digerem proteínas), elementos vaso-ativos, anti-inflamatórios e proteínas que podem inibir o crescimento de tumores. Também se está a procura de substâncias com ação anestésica local ou relaxante muscular, pois no momento da picada a maioria das vítimas diz não sentir dor.

Causas

As pesquisas com a aranha marrom começaram a ser desenvolvidas no início dos anos 90, quando o aparecimento do grande número de casos de pessoas picadas em Curitiba despertou o interesse das autoridades responsáveis.
Em 1993, em decorrência do aumento da população da aranha marrom e dos casos de acidente, foi criada em Curitiba a Comissão Interinstitucional de Estudos do Loxoscelismo composta por representantes da UFPR e das Secretarias de Saúde do Estado e do Município.
Essa comissão passou a estudar o fenômeno do loxoscelismo, termo utilizado para definir a proliferação da aranha marrom e as conseqüências clínicas dos acidentes com esse aracnídeo.
Foi verificado que a fêmea da aranha marrom copula uma única vez com o macho, guardando seus espermatozóides para utiliza-los em até seis vezes, sempre que encontrar situações apropriadas para a desova. Cada desova pode gerar em média 60 filhotes, sendo que as duas últimas, geralmente, não são férteis“, ensina o professor Oldemir Mangili.
As outras explicações são: grande capacidade de adaptação às variações climáticas (ela chega a suportar temperaturas entre 4ºC e 40ºC); o desmatamento, que gerou a mudança de habitat; e a quase total ausência da lagartixa, principal predador da aranha marrom e de outros predadores naturais como sapos e galinhas domésticas.
No ambiente doméstico, a aranha-marrom procura lugares secos e quentes como guarda-roupas, roupas de cama, gavetas, forros, porões, quadros, restos de materiais de construção e entulhos de modo geral. Ela faz sua teia – semelhante a um algodão esfiapado – nestes lugares, onde deposita os ovos.
É comum pessoas serem picadas durante a manipulação de objetos em desuso e também ao vestirem roupas que ficam dependuradas ou enquanto estão dormindo – pressionada, a aranha marrom acaba injetando o seu veneno como forma de defesa.
O pesquisador e professor Oldemir Mangili afirma que o melhor remédio ainda é a prevenção e recomenda as seguintes providências:
Limpeza periódica do ambiente; remover entulhos em forros e lajes, lugares onde há proliferação de insetos, o alimento predileto da aranha-marrom; vedar fendas e buracos em pisos e paredes; afastar os móveis das paredes; promover a ventilação natural durante o dia; usar aspirador para limpar estrados de camas, quadros pendurados, rodapés e cantos de pouco acesso; os inseticidas não são recomendados porque são tóxicos ao organismo humano, e inúteis porque não matam a aranha marrom, altamente resistente a este tipo de produto.