Painel ‘Jovens Pesquisadoras’ destaca professora da UEPG 12/03/2014 - 09:00

Alessandra Reis Silva Loguercio, do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), é a única professora de uma instituição paranaense no painel “Jovens Pesquisadoras - Ciência também é coisa de mulher”, publicado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), como parte das comemorações do Dia Internacional da Mulher (8 de Março). A publicação integra o Programa Mulher e Ciência, com o objetivo de divulgar o trabalho de jovens cientistas brasileiras, pesquisadoras de reconhecido mérito acadêmico, que se destacaram desde o período estudantil, construindo uma vida acadêmica de reconhecimento nacional e internacional, com larga produção científica e importante atuação na formação de recursos humanos.

O painel traz o perfil de 22 pesquisadoras selecionadas a partir de dois critérios. Primeiro, ter menos de 40 anos; e segundo, estar no Programa de Bolsa de Produtividade em Pesquisa (PQ) - nível 1 (em vigência, dados consultados em fevereiro de 2014). As pesquisadoras com este perfil representam 0,2% do total de bolsas PQ destinadas a mulheres pelo CNPq. A participação feminina nessa modalidade de bolsas corresponde a 36% do total de bolsas concedidas em 2013 (4.970 para mulheres e 8.994 para homens). O ingresso da mulher de modo geral, é mais tardio. Enquanto a maioria de bolsas PQ do sexo masculino é concedida a homens de 45 a 54 anos, o patamar de maior frequência de bolsas para as mulheres, nessa mesma modalidade, situa-se dos 50 aos 59 anos.

É diante desse quadro, em que as jovens pesquisadoras são minoria nas bolsas PQ que foi idealizado o painel “Jovens Pesquisadoras”. A publicação traz um resumo das trajetórias acadêmicas das jovens Pesquisadoras, bem como um breve depoimento sobre fatores de sucesso e principais dificuldades encontradas na carreira. O texto sobre a trajetória profissional foi elaborado segundo as informações disponíveis no Currículo Lattes. Segundo a equipe do Programa Mulher e Ciência, que elaborou o trabalho trata-se de uma forma de dar visibilidade às trajetórias de sucesso.

Ao analisar cada perfil das jovens selecionadas, se observa que elas se destacaram muito cedo. Muitas passaram em primeiro lugar em vestibulares, foram bolsistas de Iniciação Científica, foram premiadas durante sua formação com o prêmio de melhor tese da CAPES e prêmios de suas sociedades científicas e acadêmicas. Outras delas aceleraram o processo de formação, não fazendo o mestrado ou cursando o doutorado em um tempo mínimo de dois anos. Além disso, tiveram inserção internacional com pós-doutorados nas melhores e mais conceituadas universidades. Publicando fora do Brasil, alcançaram reconhecimento internacional e também prêmios no exterior.

PERFIL - Natural de São Paulo capital (1976), Alessandra Reis Silva Loguercio integra o corpo docente do Departamento de Odontologia da UEPG desde 2006, atuando na graduação e pós-graduação. Toda a sua formação se deu na Universidade de São Paulo (USP). A graduação em Odontologia, entre 1994 e 1998, e o doutorado, entre 1999 e 2002. Iniciou a carreira docente em 2002 na Universidade do Oeste de Santa Catarina, onde permaneceu como professora até o ano de 2008. Orientada pela professora Rosa Helena Miranda Grande no doutorado sobre materiais dentários, seu tema de pesquisa foi "Espectro de umidade da superfície dentinária para três adesivos com diferentes solventes".

Como pesquisadora de produtividade em pesquisa 1C do CNPq, suas linhas de pesquisa estão divididas em quatro áreas: Estudo da interface de união entre sistemas adesivos e substratos dentais; Diagnóstico de cárie; Avaliação clínica de materiais e técnicas restauradoras; e Estudo de materiais e técnicas para restauração de dentes fraturados. Sua produção científica é bastante significativa tendo publicado mais de 160 artigos, com mais de 1000 citações nas áreas afins, e três livros sobre materiais dentários. Tem também duas patentes registradas. Na formação de recursos humanos, já orientou oito dissertações de mestrado e três teses de doutorado, além de 24 iniciações científicas.

Em 2000, recebeu em 1º lugar o Prêmio de Incentivo à Pesquisa Dentsply/ABO-RJ e em 2008, o 1º lugar na categoria 5ª de painéis efetivos na 25ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontógica, entre outros prêmios. Membro do Corpo Editorial da Revista da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas desde 2012 e da Revista Odonto Ciência desde 2008, é revisora de vários periódicos da área odontológica.

DEPOIMENTO - No depoimento ao painel “Jovens Pesquisadoras”, Alessandra Reis Silva Loguercio credita o seu sucesso na carreira acadêmica e científica à paixão pelo seu trabalho. “Enxerguei nos problemas e dificuldades clínicas, oportunidade de aprendizado e descoberta”, disse, observando que o método científico permite abrir janelas do desconhecido. “Para cada nova janela aberta, centenas de outras são encontradas fechadas à espera da iluminação”.

Um aspecto importante para o sucesso, segundo ela, é não desanimar ao enfrentar dificuldades. “Não podemos culpar o mundo, a política ou as pessoas por não ter um projeto financiado ou um artigo científico aceito. Se todos os nossos projetos fossem aprovados e nossos artigos aceitos, certamente nunca sairíamos do nosso círculo de conforto para buscar aprimoramento no que fazemos. Ou seja, vamos agradecer pelas dificuldades, pois elas nos fazem crescer”.

Ao falar sobre as dificuldades encontradas no decorrer da carreira, dá ênfase à falta de equipamentos e recursos financeiros. De acordo com a professora, em universidades públicas, os recursos para pesquisa são escassos, o que torna os pesquisadores dependentes dos editais de pesquisa do CNPq e das agências de fomento estaduais. “É um problema cíclico. Às vezes temos o suficiente, outras vezes não temos nem o mínimo”, constata, revelando que há três anos que não consegue aprovar nenhum projeto no Edital Universal do CNPq, o que não a desanima. “Afinal há tantos outros pesquisadores competentes que também merecem ter seus projetos aprovados. Temos que enxergar nas dificuldades novas oportunidades. Assim nosso saldo sempre é positivo”.