Simepar planeja avanços para a prevenção de desastres naturais 22/06/2015 - 10:50

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Cada vez mais frequentes em vários pontos do país e do mundo, catástrofes causadas por temporais, tempestades, granizo, enxurradas e vendavais despertam a sociedade para a necessidade de monitoramento dos fenômenos climáticos severos. Neste ano, fortes chuvas deixaram um rastro de destruição com mortos e feridos na Bahia e em Santa Catarina. Nos EUA, tornados castigaram Baltimore e o Texas. Na Índia, uma onda de calor causou mais de duas mil mortes nas últimas semanas.

"A gestão de riscos requer uma abordagem multidisciplinar", afirma o diretor presidente do Simepar - Sistema Meteorológico do Paraná, Eduardo Alvim Leite. No Paraná, uma rede de monitoramento de desastres naturais integra órgãos de meio ambiente, ciência e tecnologia, agricultura, desenvolvimento urbano, energia, recursos hídricos e defesa civil. Desde 1996 o Simepar tem um radar de alta resolução espacial em Teixeira Soares, que monitora uma área entre a superfície e 8 mil metros de altura acima do nível do mar num raio de até 480 quilômetros. A previsão de chuvas foi incrementada em abril do ano passado com a entrada em operação de um radar meteorológico de dupla polarização em Cascavel. Essa tecnologia de ponta permite receber e transmitir sinais dos polos horizontal e vertical simultaneamente, gerando dados de alta qualidade. Com abrangência de 240 quilômetros de raio no modo quantitativo e 480 quilômetros no modo qualitativo, esse radar faz a varredura da atmosfera a cada cinco minutos, possibilitando previsões meteorológicas com até seis horas de antecedência.

Para aumentar a precisão das estimativas de chuvas feitas pelo Simepar, está prevista a aquisição de outros dois radares de dupla polarização a serem instalados no Litoral e na Região Metropolitana de Curitiba. Uma vez implantados esses equipamentos, o território paranaense estará completamente monitorado por radares, satélites, estações de superfície e sistema de detecção de raios.

"A definição dos locais de instalação leva em conta as características geográficas e ambientais, assim como as finalidades", observa o diretor executivo do Simepar, Cesar Beneti. Em Teixeira Soares o objetivo foi cobrir a Bacia do Rio Iguaçu onde se encontra a operação hidroenergética da Copel. Cascavel foi escolhida porque a Região Oeste apresenta grande quantidade de tempestades e para beneficiar a atividade agrícola, além de compreender o restante da Bacia do Iguaçu e as linhas de transmissão de energia. A Região Norte, por sua vez, já é coberta por equipamentos paulistas com os quais o Simepar mantém intercâmbio de dados.

"O Litoral requer um radar de pequeno porte para monitorar um fenômeno específico: as chuvas leves e prolongadas causadas pela brisa marítima, que estão associadas aos deslizamentos na encosta e não são detectadas pelo equipamento de Teixeira Soares", explica Beneti. "Na Capital e nos municípios vizinhos - onde ocorrem alagamentos próprios das metrópoles com grande densidade populacional impactadas pelas mudanças climáticas - é preciso um equipamento de médio porte para dar respostas à sociedade com rapidez e dados de alta qualidade", observa o pesquisador.

O novo sistema de radares para o Litoral e a Capital deverá ser adquirido com recursos do Banco Mundial destinados ao projeto Fortalecimento da Gestão de Riscos e Desastres (FGRD). A equipe do Simepar está tecnicamente capacitada para instalar, operar e manter essa tecnologia de ponta.

Defesa civil

Os impactos das tempestades são sentidos nos mais diversos aspectos da sociedade: habitação - sobretudo nas áreas de risco, abastecimento de água e energia, agricultura, trânsito e mobilidade, saúde pública, turismo e meio ambiente com quedas de árvores e prejuízos à qualidade do ar. Além das perdas humanas, os eventos extremos causam prejuízos econômicos.

"O radar meteorológico é um equipamento essencial para a defesa civil por melhor qualificar a emissão de alertas de vendavais, granizo e tempestades que possam configurar desastres naturais e atingir comunidades", afirma o coordenador executivo de Proteção e Defesa Civil da Casa Militar do Governo do Paraná, tenente-coronel Edemilson de Barros. A unidade foi agraciada com o primeiro lugar na categoria Sistemas de Informação de Uso Interno para Apoio aos Municípios durante a III Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Redução de Riscos de Desastres Naturais realizada em março deste ano em Sendai, no Japão, com 157 países participantes.

Tecnicamente, o risco é definido pela sobreposição de uma ameaça a uma vulnerabilidade. Ao receber os alertas do Simepar, a Defesa Civil entra em estado de atenção e, dependendo da evolução do fenômeno climático, adota procedimentos para minimizar seus efeitos. As coordenadorias regionais e municipais são acionadas para dar resposta aos desastres adotando protocolos previamente estabelecidos. A prioridade é a segurança da população, resgatando as pessoas em situação de risco em ação conjunta com os municípios afetados.

"A região litorânea é considerada sensível devido às características da Serra do Mar", observa Barros, relembrando o mais recente desastre natural ocorrido em março de 2011, que resultou em três óbitos, mais de 11 mil desalojados e 2.500 desabrigados. Também foram seriamente danificadas as infraestruturas de fornecimento de água, energia elétrica e telefonia, plantações, imóveis e veículos. Foram destruídas 12 pontes, entre as quais a ponte sobre o Rio Jacareí na BR 277. Segundo ele, nos últimos quatro anos foram registradas 128 ocorrências de defesa civil nos sete municípios litorâneos, afetando 82.484 pessoas. Nas regiões Sudoeste e Centro Sul do Estado, os últimos dois invernos foram muito chuvosos nos meses de junho e julho.

A tecnologia do Simepar também serve como base instrumental para pesquisas ambientais desenvolvidas pela comunidade científica paranaense e brasileira por meio de parcerias entre instituições, entre as quais o Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (Ceped).

Novo cenário climático requer gestão de risco


Especialistas em mudanças climáticas das Nações Unidas recomendam a gestão de risco para adaptação ao novo cenário climático e mitigação de seus efeitos. Conclusões estimam que o nível do mar sofrerá elevação de 26 a 82 centímetros em 95% das áreas oceânicas. Entre as consequências previstas estão inundações em até 70% das áreas costeiras, destruição de moradias, deslocamentos populacionais descontrolados e perdas econômicas em portos e parques industriais.

Segundo estudos técnicos, as regiões tropicais receberão ainda mais precipitações, causando perdas em lavouras, propagação de doenças em áreas úmidas, mortes por deslizamentos e inundações. O aumento da temperatura da Terra entre 0,3 °C e 4,8 °C resultará em ondas de calor mais intensas e duradouras, escassez e excesso de chuvas, com possibilidade de migração de doenças tropicais para novas áreas e degelo de calotas polares. Ecossistemas extremamente sensíveis às variações climáticas – como a Amazônia – poderão ser bastante afetados.

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FOTOS
Inundação em Morretes e Antonina em março de 2011:
Bombeiros da Defesa Civil socorrem vítimas de deslizamento
Plantações destruídas pela enxurrada
Ponte sobre o Rio Jacareí na BR 277 destruída
Vista aérea de Morretes alagada