UEL abriga Banco de Germoplasma para melhoramento genético 27/03/2019 - 11:17

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Professores do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UEL são os responsáveis pela manutenção e caracterização do Banco de Germoplasma, que abriga exemplares de várias culturas, todas objetos de pesquisa. Mais que uma reserva genética, o banco representa estrutura fundamental em programas de melhoramento genético para a identificação e seleção de características que possam ser incorporadas em cultivares de alto potencial para a agricultura. A equipe de professores do Laboratório de Ecofisiologia e Biotecnologia Agrícola (LEBA) é uma das que trabalha com as coleções instaladas, investindo para a expansão do banco, que representa um patrimônio da Universidade em benefício da comunidade.

A coleção teve início a partir de 1981, quando foi criado oficialmente o curso de Agronomia e vem ganhando cada vez importância a partir da ampliação do volume de acessos. Segundo a professora Maria Paula Barion Alves Nunes, do Departamento de Agronomia, o banco reúne sementes e material genético de diferentes culturas tais como tomate, pimenta, pimentão, feijão, orquídea, morango, batata doce, quiabo, physalis e suculentas.

Ela explica que os materiais podem ser guardados de duas maneiras principais, conforme as exigências e possibilidades de cada espécie. No caso, Ex-situ é quando o material é preservado fora do seu local de origem. Nesse caso é possível armazenar sementes em câmaras frias com temperatura e umidade controladas; plantas em vasos, cultivadas em casas de vegetação; culturas in vitro em meios de cultura e ambiente controlados de laboratório ou por meio da criopreservação, processo em que tecidos biológicos são conservados em nitrogênio líquido a menos 80°C. Outra forma de preservação é chamada de In-situ, mantendo as plantas em seu habitat natural, como as reservas e parques ecológicos. O Banco de Germoplasma da UEL tem estrutura para os diferentes tipos de preservação dos recursos genéticos.

Equipe do Laboratório de Ecofisiologia e Biotecnologia Agrícola (LEBA)
"Estamos sempre realizando trabalhos de coleta, caracterização, avaliação, documentação e conservação de materiais, visando a prospecção de novos genes e características capazes de viabilizar uma agricultura mais produtiva e sustentável", comenta a professora. Segundo ela, o Banco de Germoplasma é fundamental quando se busca, por exemplo, inserir características agronômicas e nutricionais de interesse em alguma espécie. Ela lembra que, considerando o constante aumento da população, com consequente redução das áreas agricultáveis, o grande desafio do melhoramento genético de plantas é desenvolver cultivares de qualidade nutricional, cada vez mais produtivas, sustentáveis e adaptadas às constantes mudanças ambientais relacionadas à degradação ambiental, que resultam em enchentes e períodos de seca.

Dessa forma, mais do que coletar diferentes materiais genéticos, é necessário ter as informações detalhadas do que está guardado. Assim, todo pesquisador mantém seu material de trabalho, devidamente caracterizado e conservado no Banco de Germoplasma. O objetivo é reunir e guardar a variabilidade genética, sem perder a respectiva viabilidade, resguardando os recursos genéticos de cada espécie, o que abre a possibilidade de novos campos de estudos.

O professor Leonel Constantino, do Departamento de Estatística, e doutorando do Programa de Pós-graduação Agronomia da UEL, explica que uma das linhas de pesquisa desenvolve um trabalho com chefes de cozinha buscando aprimorar sabor e forma de tomates e pimentões. O objetivo do estudo é inserir características sensoriais específicas nestas espécies, visando uma linha gourmet. "Neste caso buscamos alinhar aceitação ou paladar com a qualidade nutricional", afirma ele.

A equipe do Laboratório de Ecofisiologia e Biotecnologia Agrícola (LEBA) é formada pelos professores Maria Paula Nunes, Leonel Constantino, Juliano Vilela Resende e Leandro Simões Azeredo Gonçalves, que coordena a estrutura.

Pesquisa investiga as propriedades nutricionais do fejião Azuki
Feijão - A professora Maria Paula também utiliza o banco de germoplasma de sementes da UEL para a pesquisa sobre o fejião Azuki (Vigna angularis), espécie muito consumida nos países asiáticos e que tem se tornando popular no Brasil principalmente por suas características nutricionais, como a presença de antioxidantes e compostos anti-inflamatórios. Atualmente existe apenas uma cultivar dessa espécie registrada no Brasil. O estudo, dessa forma, busca desenvolver uma nova cultivar adaptada às características da região.

O banco da UEL tem cerca de 50 acessos de feijão azuki, que são avaliados e caracterizados de acordo com suas características morfológicas, agronômicas, moleculares e nutricionais. Ela explica que no Brasil a espécie é mais utilizada pela indústria farmacêutica. Na culinária, é a matéria-prima do manjú, doce muito popular no Japão feito à base de farinha de trigo, farinha de arroz e recheada com pasta de feijão azuki.

Outros bancos - No Brasil, a maior reserva genética está conservada em um amplo prédio de mais de dois mil metros quadrados divididos em dois pavimentos, que abriga a terceira maior instalação do mundo em capacidade de armazenamento. A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia fica em Brasília (DF) e tem capacidade para abrigar até 750 mil amostras de sementes, 10 mil vegetais in vitro, além das coleções mantidas a 180ºC negativos por meio de nitrogênio líquido, método de criopreservação. O prédio tem capacidade para mais de um milhão de amostras de diferentes métodos de armazenamento.

Mas o maior banco genético do mundo chama-se Svalbard Global Seed Vaultm e representa um gigantesco armazém construído em uma montanha de gelo, a cerca de mil quilômetros do Polo Norte, no arquipélago das Ilhas Svalbard, na Noruega. Nesse banco estão armazenadas centenas de milhares de sementes blindadas, conservadas a 18°C negativos. O projeto global desse banco de sementes foi financiado pelo governo da Noruega, com apoio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e é considerado o grande patrimônio da humanidade.