Ecossistema de inovação, empreendedorismo e políticas públicas impulsionam startups no Paraná 05/05/2021 - 10:04

Vistas como o empreendedorismo do futuro, as startups paranaenses estão ganhando, cada vez mais, destaque não apenas no cenário da inovação mas, também, no econômico. Com um ecossistema de inovação promissor o Paraná vem se confirmando como um celeiro de unicórnios no Brasil, empresas com valor de mercado superior US $ 1 bilhão. 


Curitiba já conta com dois unicórnios — Ebanx e MadeiraMadeira — deve receber mais três na lista: Olist, Contabilizei e Pipefy. “Isso mostra uma grande maturidade do ecossistema, com empreendedores criativos e ousados. Um ecossistema bem unido, no qual as startups maiores e bem-sucedidas compartilham experiências e impulsionam as demais. Tudo isso desperta a atenção dos investidores, que gostam de apostar em ecossistemas mais consolidados”, ressaltou a presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação Cris Alessi. 


O ecossistema de inovação consolidado também contribuiu para o aumento no número de startups paranaenses. De acordo com o Mapeamento das Startups Paranaenses 2020/2021, realizado pelo Sebrae/PR o estado conta hoje com 1.434 startups em 87 cidades, um total de 402 startups a mais (39%) em relação ao estudo anterior, divulgado no segundo semestre de 2019.

O levantamento mostra que 20.8 % das startups receberam recursos de investidores externos. Rafael Tortato, coordenador estadual do Projeto Startup do Sebrae-PR, destaca que as ações de fomento promovidas pelo Governo para os empreendedores iniciantes são fundamentais para o fortalecimento do ecossistema e para o estímulo do empreendedorismo inovador. “Iniciativas como essas garantem que o recurso inicial não seja uma barreira para começar um negócio de base tecnológica e com grande potencial de mercado”, comenta o coordenador. 

O Governo do Estado tem a inovação como uma de suas prioridades e tem lançado diversos editais, por meio da Fundação Araucária, como o Programa Sinapse da Inovação, Startup Match, Programa Centelha e a chamada referente ao Sistema de Inovação do Sudoeste. Os programas têm o objetivo de apoiar os pequenos empreendedores em projetos que incorporem novas tecnologias. Um investimento de mais de R$ 2,5 milhões em recursos estaduais e federais.

“É um resultado muito importante, que mede a evolução de maneira mais concreta e que mostra que estamos no caminho certo. Desta forma é possível verificar que as políticas públicas e apoios estão funcionando”, disse o presidente da Fundação Araucária Ramiro Wahrhaftig. 


O diretor da Agência de Inovação Tecnológica (Aintec) da Universidade Estadual de Londrina-UEL, professor Edson Miura, enfatiza que os programas auxiliam o crescimento das startups pois além de oportunizar recursos financeiros, acompanham o desenvolvimento das organizações. “Programas como o Sinapse da Inovação e o Centelha possuem editais, são concorridos, além de solicitarem participação efetiva das startups e contrapartidas de relatórios e entregas de etapas do desenvolvimento, sendo um parceiro de investimento na evolução das organizações.”


Paraná Inovador - Neste sentido, o Paraná tem avançado para que o estado esteja entre os mais inovadores do País, comenta Márcia Beatriz Cavalcante Líder de Inovação Aberta da Celepar. “Creio que o avanço venha das bases da estrutura de formação do Estado, com polos regionais fortes e diversificados, sistemas de apoio regionais que se conectam, conexões internacionais fortes (colonização do estado), e um governo que tem procurado acelerar a adoção de tecnologias de forma mais ágil”, disse. 

Para o pesquisador no grupo de Tecnologia e Inovação em Saúde da PUCPR e membro da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde, Cristiano Teodoro Russo, grande parte deste crescimento se deve ao amadurecimento do ecossistema como um todo. “Hoje temos programas mais sólidos de aceleração, mais investimento por parte dos fundos privados, mais editais estatais de fomento, mais empresas conversando com startups e isso saiu da capital e alcançou praticamente todo o estado.”

O professor Edson Miura relaciona o investimento em inovação com melhoria da qualidade de vida da população. “O Estado investe em inovação também como fator preponderante para o crescimento de qualidade de vida, aumento de empregabilidade, soluções tecnológicas e pesquisas, como critérios chaves para um desenvolvimento sustentável de longo prazo”, comenta. 

Fatores que contribuem - Alguns fatores foram fundamentais para a criação de empresas geradoras de inovação, mesmo em meio à pandemia e a crises econômicas, segundo Sidarta Ruthes de Lima coordenador de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do Observatório Sistema Fiep. “O crescimento da atenção das grandes empresas para as startups, que são muito inovadoras e ágeis na sua atuação, além de possuírem riscos mais baixos e custos menores em comparação às operações tradicionais de PD&I.”

Cita ainda a digitalização da economia, por meio das transformações tecnológicas em curso, gerando novos negócios em torno do conceito exponencial e colaborativo. Também o apoio institucional aos ecossistemas de inovação, proporcionando um ambiente mais propício ao empreendedorismo de alto impacto. “Até mesmo o efeito pandemia, que acelerou a vida digital da sociedade, forçando muitos negócios tradicionais a buscarem soluções digitais para se manterem vivos no mercado”, comentou o professor Sidarta. 

HealthTech - O setor de saúde e bem estar foi o que mais ganhou startups no Paraná. De todas as 29 verticais analisadas pelo estudo realizado pelo SebraePR, a que mais viu startups nascerem em 2020 foi justamente aquela relacionada à saúde.  HealthTech & Wellness ganhou 35 novos empreendimentos. São 121 startups, sendo a segunda vertical mais citada das 29. 
Cristiano Teodoro Russo, da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde, analisa que o cenário da pandemia pode ter contribuído com este crescimento. “Projetos com impressão 3D, novos materiais e produtos, testes diagnósticos, entre outros, receberam uma ‘injeção’ de investimentos e estimularam algumas novas startups.”

Por outro lado, lembra que as healthtechs sempre estiveram entre as principais vocações do Paraná no que diz respeito a startups. “A percepção do setor de saúde de que a tecnologia é uma importante aliada na solução de problemas antigos, na ampliação de acesso aos serviços médicos, a redução de custos e eficiência do setor, permitiu o sucesso, logo o aumento, de startups healthtechs não só no Paraná, mas no Brasil.”

Para Márcia Cavalcante, da Celepar, a aceleração das healthtechs veio da convergência da economia, tecnologia, mercado e pandemia. Ela reflete que a vertical health ainda precisa avançar em inovação. “A ciência médica ainda carece muito de inclusão em novas tecnologias, seja na adoção de protocolos clínicos automatizados, como a adoção e poder de compra que equipamentos, treinamentos e técnicas mais especializados. A economia dolarizada prejudica a utilização de insumos com maior qualidade e esta escassez, acaba também representando oportunidades inovadoras.”


Distribuição regional - Por mais que a regional Leste assegure o primeiro lugar, com 444 startups mapeadas (ou 31% do total), mais de dois terços das startups paranaenses não estão na capital ou próximas dela: as regionais Norte (275 ou 19,2%) e Sul (249 ou 17,4%) foram um forte segundo pelotão. A seguir vem a Oeste (193 ou 13,5%) e Noroeste (175 ou 12,2%), também próximas. Por fim, a regional Centro contabilizou 98 startups (o que corresponde a 6,8% do total).


As 10 principais cidades com startups são: Curitiba (422), Londrina (180), Pato Branco (126), Maringá (105), Cascavel (89), Ponta Grossa (76), Foz do Iguaçu (42), Dois Vizinhos (37), Francisco Beltrão (37) e Campo Mourão (35). 


“O interessante é ver a distribuição de startups em cidades menores, o que mostra que o momento do Estado é realmente de estímulo à inovação, com uma excelente distribuição geográfica do berço de novas startups”, observa a presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação Cris Alessi. 
Mulheres empreendedoras - O mapeamento realizado pelo SEBRAE mostra ainda que 22.7% das startups paranaenses têm mulheres como fundadoras.  Embora seja um dado que merece destaque, Márcia Cavalcante considera que ainda é preciso avançar. “É um percentual expressivo considerando que apenas 9% dos alunos formados no curso de Ciências de Computação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação são mulheres, e ainda considerando que a cada 10 membros de conselho, 1 é mulher (menos que 50% da média global).”
E complementa “ainda precisamos elevar muito o número de mulheres nas esferas de tomada de decisão”, reforça Márcia Cavalcante.


Investimento na base - O fomento de empreendimentos de base tecnológica e inovadora pode transformar e posicionar o Paraná, não apenas em âmbito nacional, mas também internacional. Neste cenário analisado por Rafael Tortato, que coordenou o mapeamento realizado pelo Sebrae/PR, o investimento precisa ser reforçado já na base. 
“As ações de estímulo podem começar ainda nas escolas e nas universidades, com uma participação ativa e inclusiva dos professores para transformar boas ideias e projetos em negócios de sucesso.”


Ele afirma ainda que a disponibilização do recurso inicial para o empreendimento, com critérios por se tratar de um recurso público, permite que boas iniciativas saiam do papel e possam gerar empregos qualificados.  “Bem como trazer um impacto econômico positivo, atraindo recursos de investimentos em estágios mais avançados de maturidade das startups, atração de talentos e recursos humanos qualificados”, pontua Rafael. 


Cenário econômico - Os dados mostram que as startups estão ganhando relevância e atraindo investidores. Para Sidarta Ruthes de Lima coordenador de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do Observatório Sistema Fiep, os números demonstram que há espaço para crescimento entre as empresas com expectativa de se tornarem unicórnios futuramente. “O que atrai mais investidores são os modelos de negócios baseados na economia exponencial, que podem ser escalados nacionalmente, com potencial de internacionalização do modelo. O grande desafio é conseguir alcançar a exponencialidade”, explicou.

Entre os dois segmentos de atuação mais cotados entre os potenciais unicórnios estão as fintechs e as martechs. O professor Edson Miura lembra que estas são áreas que possuem oportunidades de melhorias. “É possível considerar uma tendência, um exemplo são as fintechs com bancos digitais, sem agências físicas, agilidade nos processos, controle individuais de limite de cartão, por exemplo.” 


Setor no qual Curitiba aparece entre as cidades mais promissoras como lembra Cris Alessi. “O relatório da Startup Genome também apontou Curitiba entre as cidades mais promissoras do mundo para fintechs. Claro que o sucesso do Ebanx funciona como âncora, atraindo atenção para esse setor”, comenta. 

O professor da PUCPR, Cristiano Teodoro Russo, destaca que a curva de aprendizado e desenvolvimento do Brasil foi rápida, estando entre os cinco países com maior número de startups unicórnio. “Além disso, a atual situação dos mercados posiciona o modelo startups como um bom investimento a médio e longo prazo para quem não precisa de liquidez e quer alternativas aos modelos tradicionais ecommodities.” 

Fundação Araucária - A participação da Fundação Araucária no apoio a startups tem sido conduzida observando alguns princípios colocados em prática em 2019, buscando acelerar o sucesso destas empresas. Principalmente ao olhar o Estado organizado em ecossistemas de inovação, permitindo identificar necessidades socioeconômicas específicas e, especialmente, o papel do Sistema de Ciência e Tecnologia do Estado para suprir estas necessidades com soluções inovadoras. Também observando de forma sistêmica os grandes desafios a que são submetidas as startups. 


Uma importante ação é o Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) Startup Life que abriga diversas formas de apoio observando o ciclo de vida destas empresas, dentre os quais Sinapse, Centelha, Design para Inovação, PRIME e Startup Match. Trata-se de um esforço conjunto da Araucária, das Superintendências de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) e de Inovação (SGI).