Fundação Araucária investe R$ 4 milhões em projetos de expedições científicas na região da Amazônia 17/11/2023 - 15:00

A Iniciativa Amazônia+10 e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) lançaram, nesta quinta-feira (16), a Chamada Expedições Científicas, que vai disponibilizar R$ 59,2 milhões para financiar pesquisas voltadas para expansão do conhecimento científico da sociobiodiversidade sobre áreas pouco conhecidas da maior floresta tropical do mundo. O Governo do Paraná, por meio da Fundação Araucária, está investindo R$ 4 milhões no programa para apoiar a participação de pesquisadores paranaenses em expedições científicas multidisciplinares na região da Amazônia.

A Iniciativa Amazônia+10 é liderada pelo Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo a Pesquisas (Confap) e pelo Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência Tecnologia e Inovação (Consecti), e conta também com a parceria do CNPq.

“O Programa Iniciativa Amazônia+10 visa viabilizar recursos para projetos científicos na região, articulando grupos de pesquisa que combinam pesquisadores locais com de outros Estados. O CNPq orgulha-se em participar desta iniciativa que certamente trará grandes benefícios científicos e tecnológicos para a região”, disse Ricardo Galvão, presidente do CNPq, que ressaltou que a preservação da Floresta Amazônica e o desenvolvimento de sua economia de uma forma sustentável, não predatória, depende fortemente do conhecimento científico local.

Neste edital, 19 Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa aderiram à chamada, sendo elas dos nove Estados da Amazônia Legal (Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso), além das FAPs do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Goiás, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Paraná, São Paulo e Distrito Federal. Outras agências nacionais e internacionais ainda podem se somar à Chamada de Expedições Científicas até o dia 31 de dezembro de 2023.

“O Paraná abraçou a iniciativa desde o início e temos um grupo expressivo de pesquisadores paranaenses que, conjuntamente com pesquisadores da Amazônia, podem contribuir muito para o desenvolvimento desta região. A Iniciativa Amazônia +10 é realmente uma iniciativa excepcional”, afirma o presidente da Fundação Araucária Ramiro Wahrhaftig.

Para Odir Dellagostin, presidente do Confap, a Amazônia não interessa apenas aos Estados da região. “Ela diz respeito a todo país e ao mundo. Pesquisadores de outras partes do Brasil também têm interesse em contribuir com os desafios da região e, por isso, a possibilidade de alocação de recursos por parte de outras fundações estaduais de amparo à pesquisa é muito bem-vinda. Isso fortalece a Iniciativa Amazônia+10 e estamos muito contentes que, no momento, nós temos 25 das 27 FAPs envolvidas no programa.”

O secretário da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (Seti), Aldo Bona destacou a participação dos pesquisadores paranaenses. “A Amazônia é um patrimônio nacional de interesse mundial. De modo que ter pesquisadores paranaenses envolvidos em estudos e pesquisas sobre aquela biodiversidade é fundamental para contribuir com toda a política pública voltada à Amazônia Legal”, disse.

EDITAL - Os projetos submetidos à avaliação devem contar com pesquisadores responsáveis de pelo menos dois dos 19 estados cujas FAPs aderiram a essa chamada, sendo que um deles deve obrigatoriamente estar vinculado a instituições com sede nos Estados da Amazônia Legal. O edital também prevê ainda a inclusão na equipe de pesquisa de pelo menos um integrante PIQCT (Povos indígenas, Quilombolas e Comunidades Tradicionais), detentor do conhecimento tradicional relacionado ao território que será estudado.

As propostas devem ser voltadas para expedições científicas multidisciplinares na região da Amazônia por um período de até 36 meses e o valor mínimo de cada projeto contemplado será de R$ 400 mil – não havendo limite máximo

Dos R$ 59.250.000 previstos nesta chamada, R$ 30 milhões serão alocados pelo CNPq exclusivamente para pesquisadores com vínculo formal com alguma instituição localizada em um dos Estados da Amazônia Legal.

Embora a Amazônia seja uma das maiores e mais intactas florestas do mundo, ela é também uma das menos conhecidas em termos biológicos. Seu tamanho imenso, sua diversidade e seus acessos limitados fazem com que a tarefa de documentar sua biodiversidade seja extremamente desafiadora.

Além da questão espacial, também existem vieses taxonômicos nas pesquisas realizadas até o momento. A intenção é que a iniciativa ajude a superar essas lacunas. Além disso, o material coletado será catalogado e tombado em instituições amazônicas, como forma de preservação desse patrimônio.

“Nós demos um passo importante com essa iniciativa. Muitas vezes, a Amazônia recebia pesquisadores de outros Estados, de outros países e, muitas vezes, os próprios pesquisadores da região não participavam dos projetos – ou atuavam apenas como coadjuvantes. E houve um avanço nesse sentido com o primeiro edital lançado pela Iniciativa Amazônia+10, em 2022, e agora neste. Isso significa um trabalho de parceria, de pesquisa colaborativa, que leva em consideração o que os amazônidas pensam e o que têm”, explicou Márcia Perales, diretora-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).

PRAZO - O prazo para submissão dos projetos é até o dia 29 de abril de 2024. O resultado final deve ser divulgado no dia 23 de agosto de 2024. O edital com todas as informações está no site  Amazônia +10 .

Pesquisa em benefício da sociedade - A dificuldade do acesso à energia elétrica em algumas regiões da Amazônia atrelada à falta de água encanada resulta na utilização de fontes de energia “sujas”, além de acarretar o aumento de doenças relacionadas ao consumo de água de baixa qualidade.

Diante desta triste realidade, o projeto “Amazônia Sustentável – Promovendo a inclusão social pelo acesso à energia elétrica e água de qualidade de comunidades locais amazônicas” propõe desenvolver um sistema em escala piloto para geração de energia elétrica e tratamento de água, de modo a atender uma unidade familiar de quatro pessoas. Contemplado na primeira edição da Iniciativa Amazônia +10, o projeto tem a participação da pesquisadora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Samara Silva de Souza.

“A nossa ideia é entregar um kit Amazônia, que é capaz de levar energia e água de qualidade para uma residência com até quatro pessoas com a possibilidade de ser ampliado. Algo muito importante uma vez que energia e água de qualidade é algo que depende da proximidade entre centros urbanos então a gente levantou bem esta questão de populações que moram em frente à cidade de Belém e não têm acesso a água tratada”, explica a pesquisadora paranaense.

“Comunidades de Tucuruí que têm uma linha de transmissão de energia passando acima da cidade mas não têm acesso ao sistema de eletricidade então tem algumas incoerências bem grandes e que acarretam a exclusão social e algumas doenças de veiculação hídrica. Então buscamos encontrar algumas soluções para a questão da melhoria da qualidade de vida seja nos aspectos humano, social ou econômico”, desta a professora Samara.

Em uma das linhas do projeto a equipe de pesquisadores trabalha no desenvolvimento de materiais filtrantes e absorventes utilizando nanocelose bacteriana com o objetivo de tentar dimensionar um módulo de tratamento de água para remover alguns contaminantes emergentes, por exemplo, corantes, herbicidas, metais pesados que são bem frequentes nestas águas residuais.  “A ideia realmente é que os kits que a gente vai oferecer precisam ser acessíveis de fácil manuseio, que o ribeirinho consiga utilizar”, enfatiza a pesquisadora da UTFPR.

Este projeto é desenvolvido em uma parceria com pesquisadores das universidades federais do Pará e Rural de Pernambuco. Dez projetos contemplados na primeira edição da Iniciativa +10 contam com a participação de pesquisadores paranaenses.

Outra proposta pretende apoiar os coletores de castanha-do-Brasil. O pesquisador da Universidades Estadual de Maringá (UEM), Lúcio Cardozo Filho, junto com pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso e das universidades estaduais do Norte Fluminense e de Campinas, atua no projeto “Fortalecimento da cadeia de valor da castanha-do-Brasil: uma abordagem focada na Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Juruena/MT)”.

“Um grande gargalo é que pagam para os coletores locais R$ 5 o quilo da castanha e para o consumidor final é vendido a R$ 80. O que estamos tentando é que esta comercialização seja mais justa. Estamos propondo estas melhorias para agregar valor ao produto que eles oferecem para que eles consigam um valor de mercado”, explica o professor Lúcio.

Ele reforça que além da questão tecnológica é preciso ainda uma visão mercadológica. “Estamos rentando melhorar os produtos que eles já têm e também propor novos produtos e técnicas para valorizar em termos de cosméticos, alimentos de melhor qualidade ou que demonstram mesmo a qualidade que a castanha-do Brasil tem. Não vendendo apenas ela in natura ou fazendo cosméticos, estamos desenvolvendo uma metodologia para valorizar o que tem de melhor na castanha”, enfatiza o pesquisador.

Fonte: Iniciativa  Amazonia +10 com Assessoria de Comunicação da Fundação Araucária.