Pesquisadores desenvolvem modelo para prevenir e tratar a toxoplasmose em gestantes 03/02/2008 - 11:40


Sucesso do programa também é creditado aos agentes comunitários. (Foto arquivo Italmar Navarro/UEL.) 

Pesquisa sobre a doença gerou teses de pós-graduação e um modelo de vigilância sanitária para auxiliar municípios
O apoio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) a programas e projetos desenvolvidos nas universidades públicas está possibilitando que municípios paranaenses encontrem soluções de baixo custo em várias áreas, entre elas a da saúde. Depois de avaliados e aprovados pelo Conselho Paranaense de Ciência e Tecnologia (CCT-PR), os projetos recebem recursos do Fundo Paraná, gerenciado pela secretaria.
Um exemplo é o “Programa de Vigilância em Saúde da Toxoplasmose Congênita em Gestantes Atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado do Paraná”, que vem sendo desenvolvido por pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Estadual de Londrina (UEL), em parceria com as universidades estaduais de Maringá (UEM) e de Cascavel (UNIOESTE), as secretarias estadual e municipal de Saúde (Londrina) e os ministérios da Saúde, Educação (CAPES) e de Ciência e Tecnologia (CNPq).
O objetivo desse programa, cujos recursos somam R$ 314 mil do Fundo Paraná, é diminuir os casos de toxoplasmose inicialmente nas cidades de Londrina, Maringá, Rolândia e Cascavel. “Todos os municípios paranaenses podem adotar o modelo de vigilância sanitária uma vez que os custos são mínimos, praticamente alguns centavos por habitante”, informa o coordenador da pesquisa, professor Italmar Navarro.
Em Londrina, primeiro município a implantar o modelo, houve uma diminuição dos casos de toxoplasmose segundo informa a bióloga Maria Ruiz Lopes, da UEL. “Isto também deve ser creditado aos agentes comunitários do município. São eles que vão de casa em casa conversar com os moradores e orientá-los”, diz a enfermeira responsável pela Unidade Básica de Saúde do bairro de Panissa, em Londrina, Ana Patrícia Pershum.
Segundo as estatísticas oficiais, mais da metade da população mundial possui anticorpos contra a doença, ou seja, está ou já esteve infectada pelo parasita Toxoplasma gondii. No Brasil, a prevalência varia de região para região. Em Londrina, cerca de 50% das gestantes teriam tido toxoplasmose antes da gravidez (neste caso, não há risco de transmitir a doença aos bebês). Em Rolândia, segundo município a implantar o modelo de vigilância, dados preliminares indicam uma prevalência de 55% em gestantes nessas condições.
Já os dados de publicações científicas mostram a ocorrência de gestantes soropositivas para IgG e IgM (com potencial de infectar os fetos) em torno de 0,5 a 2,0% em algumas regiões, chegando a 5,5% em outras. Um artigo publicado em 2000 pela professora da UEL, Edna Reiche, encontrou 1,8% de gestantes com IgG positivos e IgM positivos em Londrina. Essas gestantes eram atendidas no ambulatório de alto risco do Hospital Universitário com algum tipo de suspeita.
Custos mínimos
O programa prevê a mobilização de laboratórios, hospitais de referência e farmácias municipais e regionais de saúde, bem como o treinamento de médicos e outros profissionais da área. Prevê, ainda, a inclusão do diagnóstico da toxoplasmose no “teste do pezinho” em todos os recém-nascidos.
Durante a pesquisa, realizada nos anos de 2006 e 2007, quando a equipe desenvolveu o “Modelo de vigilância em saúde da toxoplasmose na gestante e no bebê – uma experiência em Londrina - Paraná”, a professora Regina Mitsuka Breganó, da UEL, elaborou projeto de tese de doutorado incluindo protocolos para a interpretação de exames, condutas e tratamento de gestantes e crianças, entre outras providências.
“Os protocolos (algoritmos) tornam o encaminhamento das gestantes com toxoplasmose aguda ao hospital de referência – Hospital Universitário - muito mais ágil. Também melhora a qualidade dos exames realizados em laboratório”, exemplifica.
Rolândia
“Queríamos saber como uma cidade de pequeno porte, que não fazia o diagnóstico da toxoplasmose em gestantes, responderia diante desta importante questão de saúde pública”, afirma a médica veterinária Renata Ferreira Cristina Dias, que estudou o perfil das mulheres atendidas na Unidade Básica de Saúde do município para uma tese de mestrado.
Em Rolândia, já foi realizado o treinamento de médicos e enfermeiros da Unidade Básica de Saúde e recomendado que funcionários administrativos também sejam instruídos sobre a doença e as suas seqüelas. Com isto, a médica acredita que o controle da toxoplasmose no município ficará mais fácil uma vez que, segundo ela, “todos são responsáveis”.
A toxoplasmose
A toxoplasmose é uma infecção congênita ou adquirida, causada pelo parasita Toxoplasma gondii, que incide em animais e no homem. A toxoplasmose congênita em gestantes -- foco da pesquisa -- é mais grave quando a mãe é infectada no início da gravidez, podendo ocorrer aborto ou malformações no feto. É considerada uma doença “silenciosa”, de difícil diagnóstico clínico. A mulher infectada pode não ter sintomas ou apresentar sintomas brandos que se assemelham a uma gripe.
Segundo o coordenador da pesquisa, crianças infectadas podem apresentar, ao nascer, hidrocefalia e retardo mental, entre outras complicações. As crianças que nascem normais podem desenvolver seqüelas durante a infância e até mesmo na fase adulta, explica.
“Como a toxoplasmose não é uma doença de notificação compulsória e como a maioria das crianças manifesta alterações neurológicas e oculares ao longo da vida, não se conhece a real importância desta grave infecção congênita na população”, afirma.
A toxoplasmose pode ser ocasionada pela ingestão de carnes ou embutidos crus ou mal passados, principalmente de suínos, ovinos e caprinos; de leite de cabra não pasteurizado ou fervido; pelo contato com as fezes de gatos (também é preciso ter cuidado com a areia dos parques de recreação infantil); de frutas e verduras mal lavadas; e de água não tratada.
Pré-Natal
É importante - dizem os pesquisadores - que as gestantes de risco, ou seja, as mães que nunca tiveram contato com o parasita da toxoplasmose, recebam as orientações sobre as medidas de prevenção já nas primeiras consultas do pré-natal.
Outras medidas que devem ser adotadas são a pesquisa de anticorpos contra o Toxoplasma gondii (as gestantes podem se infectar sem apresentar sintomas significativos) e a repetição do exame no segundo e terceiro trimestres da gestação nas mulheres grávidas negativas para a toxoplasmose.
De acordo ainda com os pesquisadores, pessoas saudáveis não têm complicações quando adquirem a doença. Porém, as que têm HIV, câncer ou sofrem com o stress ou qualquer outra doença que afeta o sistema imunológico, a infecção é considerada grave e exige atenção redobrada.



Como prevenir a toxoplasmose 
Gestantes devem iniciar o pré-natal o mais cedo possível